A Aquisição Das Construções Passivas Em Português E Inglês .

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE LETRASCURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRASA aquisição das construções passivas emportuguês e inglês:um estudo translingüísticoRosângela GabrielDoutorandaProf. Dr. José Marcelino PoerschOrientadorProf. Dr. Kim PlunkettOrientador associadoUniversidade de Oxford - InglaterraData de defesa: 08/01/2001Instituição depositária:Biblioteca Central Irmão José OtãoPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do SulPorto Alegre, janeiro de 2001

AGRADECIMENTOS à CAPES (Brasília/Brasil), pelo apoio financeiro através do programa deBolsa Sandwich; ao professor José Marcelino Poersch (PUCRS), pela presença constantenesta caminhada de 4 anos; ao professor Kim Plunkett (Universidade de Oxford), pela oportunidadede integrar seu grupo de pesquisa e pela seriedade e profissionalismodemonstrados na orientação da pesquisa; ao professor Dr. Mario Cortina Borba (Universidade de Oxford), pelaorientação no tratamento estatístico dos dados; a Elizabeth Bates e Virgínia Marchman, pela cópia do vídeo de desenhoanimado usado em dois experimentos descritos nesta tese; a Alison Hail, pela leitura da versão em inglês de capítulos desta tese; a mais de 300 colaboradores anônimos, pela participação voluntária nosestudos experimentais; às escolas e universidades brasileiras e inglesas, por cederem seu tempo eespaço físico para a coleta de dados; aos meus pais, pela segurança e tranqüilidade transmitidas durante os 19meses de trabalho na Inglaterra e por tudo, tudo mais; a todos os meus amigos no Brasil, na Inglaterra ou espalhados pelomundo, por contribuírem tão significativamente para o meu crescimentopessoal e para a manutenção (?) da minha saúde mental.Muito obrigado!Thank you so much!ii

SUMÁRIOResumoviiiAbstractixLista de QuadrosxLista de FigurasxiLista de TabelasxivLista de AnexosxvCAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO1CAPÍTULO 2 – AS CONSTRUÇÕES PASSIVAS51 – INTRODUÇÃO52 – O ESTADO DA ARTE62.1 – Falantes maduros62.2 – Falantes (bem) jovens102.2.1 – Verbos de ação vs. verbos de não-ação102.2.2 – Construções canônicas ou prototípicas122.2.3 – Passivas reversíveis vs. irreversíveis132.2.4 – Conservadorismo vs. produtivismo152.2.5 – Passivas em línguas outras que o inglês17iii

3 – EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO OPERACIONAL183.1 – Definições de construções passivas193.1.1 – Uma definição baseada no critério transitividade193.1.2 – Uma definição baseada no critério topicalidade223.1.3 – Uma definição liberal de passivas233.1.4 – Definições baseadas na exemplificação253.2 – Por uma definição operacional284 – COMO ACONTECE A AQUISIÇÃO DAS32CONSTRUÇÕES PASSIVAS4.1 – As hipóteses continuísta e maturacional324.2 – As hipóteses conservadora e produtiva354.3 – A abordagem funcionalista e o modelo de competição384.4 – O paradigma conexionista425 – CONCLUSÃO45CAPÍTULO 3 – A PRODUÇÃO DE PASSIVAS471 - INTRODUÇÃO471.1 – Reproduzindo Marchman et al. (1991)501.2 – Passivas em português522 – ESTUDO PI: PRODUÇÃO EM INGLÊS542.1 – Método542.1.1 – Sujeitos552.1.2 – Tarefa552.1.3 – Procedimentos de testagem562.1.4 – Codificação dos dados572.1.5 – Procedimentos de análise612.2 – Resultados e discussão: M91 vs. PI622.2.1 – Uso de passivas62iv

2.2.2 – Respostas às questões: agentes662.2.3 – Respostas às questões: não-agentes672.2.4 – Variantes estruturais das passivas762.2.5 – Cenas simples vs. complexas783 – ESTUDO PP: PRODUÇÃO EM PORTUGUÊS813.1 – Método813.1.1 – Sujeitos813.1.2 – Tarefa823.1.3 – Procedimentos de testagem823.1.4 – Codificação dos dados833.1.5 – Procedimentos de análise873.2 – Resultados e discussão: PP883.2.1 – Uso de passivas883.2.2 – Respostas às questões: agentes893.2.3 – Respostas às questões: não-agentes913.2.4 – Variantes estruturais das passivas963.2.5 – Cenas simples vs. complexas974 – COMPARANDO OS DOIS ESTUDOS: PI & PP1004.1 – Topicalização1024.2 – Trocas ativa/passiva1094.3 – Input lingüístico1124.4 – Semântica verbal1174.5 – Passivas adjetivas1184.6 – O agente da passiva1204.7 – Passiva impessoal1225 – CONCLUSÃO123v

CAPÍTULO 4 – A COMPREENSÃO DE PASSIVAS1271 – INTRODUÇÃO1272 - ESTUDO CI: COMPREENSÃO EM INGLÊS1332.1 – Método1332.1.1 – Sujeitos1332.1.2 – Tarefa e procedimentos1342.1.3 – Codificação dos dados1372.1.4 – Procedimentos de análise1372.2 - Resultados e discussão1382.2.1 – Prototipicalidade: mais vs. menos1402.2.2 – Mais-prototípico: reversível vs. irreversível1422.2.3 – Menos-prototípico: locativo vs. dativo1442.2.4 – Análise item-por-item1453 – ESTUDO CP: COMPREENSÃO EM PORTUGUÊS1473.1 – Método1473.1.1 – Sujeitos1483.1.2 – Tarefa e procedimentos1483.1.3 – Codificação dos dados1493.1.4 – Procedimentos de análise1493.2 – Resultados e discussão1513.2.1 – Prototipicalidade: mais vs. menos1533.2.2 – Mais-prototípico: reversível vs. irreversível1543.2.3 – Menos-prototípico: dativo vs. locativo1563.2.4 – Análise item-por-item1574 – COMPARANDO OS DOIS ESTUDOS: CI & CP1604.1 – Avaliando a tarefa1614.2 – Comparando os resultados dos estudos CI e CP1644.3 – Uma abordagem cognitiva dos resultados166vi

5 - CONCLUSÃO168CAPÍTULO 5 - A AQUISIÇÃO DE PASSIVAS1701 – INTRODUÇÃO1702 – MANTENDO O TÓPICO FRASAL1722.1 – Simulando um input equilibrado1762.1.1 – Tarefa1762.1.2 – Representação do input e output1772.1.3 – Arquitetura da rede1792.1.4 – Treinando a rede1812.1.5 – Testando a rede1812.2 – Simulando um input desequilibrado1852.2.1 – Tarefa1852.2.2 – Representação do input e output1862.2.3 – Arquitetura da rede e regime de treinamento1872.2.5 – Testando a rede1873 – DISCUSSÃO1894 – CONCLUSÃO192CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO194REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS199vii

ResumoEsta tese de doutorado procura contribuir para a compreensão danatureza da linguagem e do cérebro através do estudo de um único fenômenolingüístico, examinado sob diversos ângulos. Esse fenômeno é a construçãopassiva, foco de considerável interesse na pesquisa psicolingüística nasúltimas décadas.Inserida nos estudos de aquisição da linguagem, esta investigaçãoobjetiva lançar luz sobre a seguinte questão: Como as crianças aprendem asconstruções passivas? Para isso, duas técnicas são utilizadas: análise de dadosempíricos e simulação em computador do processamento neuronial. Os dadosempíricos vêm de quatro estudos, que distinguem-se de outros em trêsaspectos: 1 – Foram testadas tanto a compreensão quanto a produção deconstruções ativas e passivas; 2 – Foram aplicadas as mesmas técnicas detestagem de compreensão e produção a falantes monolíngües de português einglês; 3 – Foram ouvidas crianças, com idade variando dos 3 aos 10 anos, eadultos, numa amostra constituída de mais de 300 sujeitos. Os resultados dosestudos translingüísticos forneceram subsídios para a construção de ummodelo de rede neuronial em computador que procura simular a aquisição eprocessamento das construções passivas. O modelo de rede escolhido éconexionista, um paradigma teórico que assume que a aprendizagem ébaseada em processos associativos envolvendo a modificação dos pesossinápticos.A pesquisa conduzida ressalta a necessidade constante de agregardados empíricos, descobertas neurológicas e técnicas computacionais. Juntas,essas informações oferecem uma estratégia abrangente e valiosa parainvestigar domínios cognitivos complexos como a aquisição da linguagemhumana.viii

AbstractThis doctoral thesis attempts to contribute to the understanding of thenature of language and mind by studying a single linguistic phenomenon,examined from several angles. This phenomenon is the passive construction,focus of considerable interest in psycholinguistic research in the lastdecades.Located in the field of language acquisition, this investigation aims toshed light on the following question: How do children learn the passiveconstructions? To do this, two techniques have been used: analysis ofempirical data and computer simulation of neural processing. The empiricaldata comes from four studies, that differ from others mainly because of thefollowing: 1 – Both comprehension and production of active and passiveconstructions were tested; 2 – The same techniques testing comprehensionand production were used with English and Portuguese monolingual nativespeakers; 3 – Both children, aged 3 to 10, and adults were tested,constituting a sample of more than 300 subjects. The crosslinguistic resultsprovided evidence for modelling the acquisition and processing of passiveconstructions in a computer neural network. A connectionist neural networkwas built, relying on the assumption that learning is based on associativeprocesses involving modifiable synaptic weights and connections betweennetworks of simple computing units.The research stresses the need for constant interchange betweenempirical data, neurological findings and computational techniques.Together, this information provides a comprehensive and valid strategy forinvestigating complex cognitive domains such as the acquisition of humanlanguage.ix

Lista de QuadrosQuadro 2.1Componentes de Transitividade20Quadro 2.2Construções passivas23Quadro 2.3Estrutura sintática das passivas28Quadro 3.1Sistema de codificação do estudo Produção em Inglês58Quadro 3.2Procedimento Hierárquico60Quadro 3.3Exemplo da aplicação do Procedimento Hierárquico64Quadro 3.4Exemplos de descrições não-evento (PI)76Quadro 3.5Sistema de codificação do estudo Produção em85PortuguêsQuadro 3.6Exemplos de descrição do evento86Quadro 4.1Frases usadas no estudo Compreensão em Inglês136Quadro 4.2Frases usadas no estudo Compreensão em Português150Quadro 4.3Exemplos de crianças espontaneamente justificando suas164respostas (CI e CP)Quadro 5.1Representação de palavras usadas na simulação177Quadro 5.2Fragmento dos pares de treinamento cena/tópico e frases178desejadas no outputx

Lista de FigurasFig. 2.1Continuum de transitividade30Fig. 3.1Respostas à topicalização do agente (PI)67Fig. 3.2Respostas à topicalização do não-agente (PI)68Fig. 3.3Respostas ativas à topicalização do agente vs. não-agente69(PI)Fig. 3.4Respostas passivas à topicalização do agente vs. não-agente69(PI)Fig. 3.5Respostas ‘não-passiva’ à topicalização do não-agente (PI)74Fig. 3.6Respostas à topicalização do não-agente – 4 categorias (PI)75Fig. 3.7Distribuição de passivas cheia e truncada (PI)77Fig. 3.8Distribuição de passivas be e get (PI)78Fig. 3.9Distribuição de passivas cheias em cenas simples e79complexas (PI)Fig. 3.10Respostas à topicalização do agente (PP)90Fig. 3.11Respostas à topicalização do não-agente (PP)91Fig. 3.12Respostas ativas à topicalização do agente vs. não-agente92(PP)Fig. 3.13Respostas passivas à topicalização do agente vs. não-agente92(PP)Fig. 3.14Respostas ‘não-passiva’ à topicalização do não-agente (PP)95Fig. 3.15Respostas à topicalização do não-agente – 4 categorias (PP)96Fig. 3.16Distribuição de passivas cheias e truncadas (PP)97Fig. 3.17Distribuição de passivas cheias em cenas simples e98complexas (PP)Fig. 3.18Topicalização do não-agente no estudo PI (PI)106xi

Fig. 3.19Topicalização do não-agente no estudo PP (PP)106Fig. 3.20Distribuição de passivas be no estudo PI (PI)107Fig. 3.21Distribuição de passivas ‘ser’ no estudo PP (PP)107Fig. 3.22Passivas vs. não-passivas na condição não-agente116topicalizado no estudo PIFig. 3.23Passivas vs. não-passivas na condição não-agente116topicalizado no estudo PPFig. 4.1Novo continnum de transitividade130Fig. 4.2Continnum de prototipicalidade para a aquisição de frases133ativas e passivasFig. 4.3Exemplo de figura e cartões usados na tarefa135Fig. 4.4Respostas corretas em frases ativas e passivas (CI)139Fig. 4.5Respostas corretas em frases ativas e passivas em cenas141mais-prototípicas (CI)Fig. 4.6Respostas corretas em frases ativas e passivas em cenas141menos-prototípicas (CI)Fig. 4.7Respostas corretas em frases reversíveis (CI)143Fig. 4.8Respostas corretas em frases irreversíveis (CI)143Fig. 4.9Respostas corretas em frases dativas (CI)144Fig. 4.10Respostas corretas em frases locativas (CI)144Fig. 4.11Respostas corretas em frases ativas em cenas mais-146prototípicas (CI)Fig. 4.12Respostas corretas em frases passivas em cenas menos-146prototípicas (CI)Fig. 4.13Respostas corretas em frases ativas em cenas menos-146prototípicas (CI)Fig. 4.14Respostas corretas em frases passivas em cenas menos-146prototípicas (CI)xii

Fig. 4.15Respostas corretas em frases ativas e passivas (CP)152Fig. 4.16Respostas corretas em frases ativas e passivas em cenas154mais-prototípicas (CP)Fig. 4.17Respostas corretas em frases ativas e passivas em cenas154menos-prototípicas (CP)Fig. 4.18Respostas corretas em frases reversíveis (CP)155Fig. 4.19Respostas corretas em frases irreversíveis (CP)155Fig. 4.20Respostas corretas em frases dativas (CP)156Fig. 4.21Respostas corretas em frases locativas (CP)156Fig. 4.22Respostas corretas em frases ativas em cenas mais-158prototípicas (CP)Fig. 4.23Respostas corretas em frases passivas em cenas mais-158prototípicas (CP)Fig. 4.24Respostas corretas em frases ativas em cenas menos-158prototípicas (CP)Fig. 4.25Respostas corretas em frases passivas em cenas menos-158prototípicas (CP)Fig. 4.26Continnum de Transitividade (mais)167Fig. 5.1Arquitetura da rede feedforward para produção de frases180ativas e passivasFig. 5.2Curva de erro da rede através do treinamento180Fig. 5.3Fragmento da tradução da atividade da rede na camada de182output usando o peso das conexões após 6000 impulsosFig. 5.4Análise por grupos de 32 vetores usando a ativação das184unidades hidden após 6000 impulsos de treinamentoxiii

Lista de TabelasTabela IVisão geral dos tipos de cena e de situação discursiva56Tabela IIProporção de sujeitos que produziram ao menos uma63passiva (PI)Tabela IIIProporção de sujeitos que produziram ao menos uma89passiva (PP)Tabela IVProporção de sujeitos que produziram ao menos uma102passiva (PI e PP)Tabela VVisão geral do delineamento do experimento134Tabela VISíntese dos resultados dos estudos CI e CP165Tabela VIIClassificação das respostas da rede na Simulação de183Input Equilibrado, após 37 épocas de treinamentoTabela VIII

ao professor Dr. Mario Cortina Borba (Universidade de Oxford), pela orientação no tratamento estatístico dos dados; a Elizabeth Bates e Virgínia Marchman, pela cópia do vídeo de desenho animado usado em dois experimentos descritos nesta tese; a Alison Hail, pela leitura da versão em inglês de capítulos desta tese; a mais de 300 colaboradores anônimos, pela participaç