15 Anos Da Especializacao - UEL

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4Editores de texto:Fabiana Aline AlvesPaulo César BoniEditor de fotografia:Paulo César BoniRevisão:Ayoub Hanna AyoubFabiana Aline AlvesNormalização:Laudicena de Fátima Ribeiro / CRB 9 / 108Programação visual:Heliane Miyuki MiazakiCapa:Criação e arte de Heliane Miazaki com imagensgentilmente cedidas pelo fotógrafo Mário BockCatalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos do Sistema de Bibliotecasda Universidade Estadual de Londrina (UEL)Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)F759Fotografia: múltiplos olhares / Paulo César Boni (Org.). – Londrina: Midiograf, 2011.330 p.: il. ; 21cm.ISSN 978-85-60591-59-61. Fotografia. 2. Profissionais da Informação - Fotografia. 3.Fotografia - Comunicação. I. Boni, Paulo César.CDU: 77.01Elaborada por: Terezinha Batista de Souza

5Conselho EditorialProf. Ms. Ayoub Hanna Ayoub(Universidade Estadual de Londrina)Prof. Dr. Isaac Antonio Camargo(Universidade Federal de Santa Catarina)Profa. Ms. Dda. Maria Zaclis Veiga Ferreira(Universidade Positivo)Prof. Dr. Milton Guran(Universidade Federal Fluminense)Profa. Dra. Simonetta Persichetti(Faculdade Cásper Líbero)

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7AgradecimentosA todos os professores e estudantes do Curso de Especialização em Fotografia:Práxis e Discurso Fotográfico da Universidade Estadual de Londrina;A todos os estudantes, professores, pesquisadores e colaboradoresque participam desta publicação;Aos membros do Conselho Editorial que, com atenção, paciência ecompromisso, leram e deliberaram sobre as propostas de publicação;À Laudicena de Fátima Ribeiro, a Lau,profissional comprometida com o trabalho,pela revisão e normalização dos textos;À Katiusa Stumpf, pela sugestão do título do livroFotografia: múltiplos olhares;Ao fotógrafo Mário Bock, pela cessão de imagens de suacoleção particular de câmeras fotográficas clássicas e antigas;À Heliane Miazaki, pelo carinho e capricho na programação visual.

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9À memória do fotógrafo João Bittar (1951-2011),falecido dia 18 de dezembro de 2011,por sua seriedade e dedicação ética ao fotojornalismo brasileiro.

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11Sumário15 anos de trabalho e resultados . 13A intencionalidade de comunicação no fotojornalismo:análise das imagens do latrocínio de Isabella Garcia Lopes . 27Fernanda Grosse Bressan e Paulo César BoniFoto-choque e tragédias no fotojornalismo: análise fotográficados terremotos no Haiti e no Japão pelo blog Big Picture . 51Anderson José da Costa Coelho e Anna Letícia Pereira de CarvalhoMaratona Fotográfica Clic o Seu Amor por Londrina:elementos formadores da imagem da cidade . 75Natalia Nakadomari Bula e Milena KanashiroA fotografia como materialização da relação entre sujeito e espaço:a experiência de oficinas de fotografia e leitura de espaçosno Colégio Estadual Ana Molina Garcia, em Londrina (PR). 89Mariana Ferreira Lopes e Michelli Mahnic de VasconcellosA representação fotográfica dos outros: múltiplas possibilidadesde construção e de leituras . 111Júlia Mariano Ferreira e Paulo César BoniRetratos criminosos: o fotojornalismo e as diferentesnarrativas de criminalidade . 131Juliana Daibert e Ana Lúcia Rodrigues

12O novo fotojornalismo e os coletivos fotográficos . 151Rodolpho Cavalheiro NetoO fotojornalismo na construção do conhecimento histórico:a cobertura de Veja sobre a implantação do AI-5 . 169Fabiana A. AlvesA fotografia aliada à história oral para a recuperação epreservação da memória . 201Maria Luisa HoffmannA importância da imagem na recuperação histórica dos desfilesde aniversário de Santa Mercedes (SP) . 231Letícia Bortoloti Pinheiro e Paulo César BoniÁlbuns de família e álbuns digitais: a propósitode semelhanças e diferenças . 265Anderson Timóteo Ferreira e Katharine Nóbrega da SilvaImagens silenciosas: a fotografia no cemitério sobuma abordagem fotoetnográfica . 285Letícia Silva de Jesus e Alamir Aquino CorrêaImagem fotográfica: processo de leitura eanálise documental . 309Maria del Carmen Agustín Lacruz e Katiusa Stumpf

1315 anos de trabalho e resultadosO Curso de Especialização em Fotografia: Práxis e DiscursoFotográfico da Universidade Estadual de Londrina foi criado em meadosde 1996 e começou suas atividades no início de 1997. Foi o primeirocurso de pós-graduação Lato sensu em fotografia do Brasil. Hoje, sãomais de 40, mas o da UEL, com atividades ininterruptas nesses 15 anos,além de pioneiro, também é reconhecido como o mais tradicional econsistente do país.Em 1996, por ocasião da preparação de seu projeto de criação,deixávamos claro que pretendíamos ampliar os horizontes do ensino emfotografia e criar um fórum avançado de discussão sobre imagem emLondrina. Para tanto, além da qualidade do ensino e da geração deconhecimentos (pesquisa), procuramos estreitar os laços da academia como mercado de trabalho, promovendo a vinda de fotógrafos renomadospara ministrar aulas, oficinas e workshops no curso.A equipe que pensou o projeto da Especialização em Fotografia(pós-graduação Lato sensu) era formada pelos professores doutores IsaacAntonio Camargo, Miguel Luiz Contani e Paulo César Boni. Não porcoincidência, dez anos mais tarde, com mais experiência e maturidade,essa mesma equipe capitaneou a implantação do Mestrado emComunicação (pós-graduação Stricto sensu) na Universidade Estadualde Londrina.Em 1999, com apenas dois anos de atividades, o curso lançou seuprimeiro livro O discurso fotográfico, que reunia os trabalhos deconclusão de curso (TCCs) de estudantes de suas duas primeiras turmas,

14ou seja, as de 1997 e 1998. Nesse momento, era permitido que atividadespráticas, como ensaios fotográficos, fossem apresentadas como TCC.Esse primeiro livro reflete bem aquela fase, pois traz muito mais ensaiosfotográficos que materiais teóricos.No ano 2000, defendi, na Escola de Comunicação e Artes daUniversidade de São Paulo (ECA/USP), minha tese de doutorado.Intitulada O discurso fotográfico: a intencionalidade de comunicaçãono fotojornalismo, ela trazia uma nova proposta metodológica de análisefotográfica. Hoje, essa proposta parece bastante simples e lógica, mas,quando apresentada, foi considerada uma inovação perigosa. Todas asmetodologias de análise, até então, pressupunham que o processo analíticofosse realizado do produto final (fotografia) para frente, ou seja, alguémolhava para uma fotografia e começava fazer a análise. A da intencionalidadede comunicação propunha que a análise fosse feita do produto final paratrás, ou seja, da fotografia para o fotógrafo, para tentar aferir qual era suaintenção no momento do registro fotográfico.Esta metodologia pressupõe que o fotógrafo utiliza os recursostécnicos e os elementos de linguagem da fotografia para manifestar suaintencionalidade de comunicação na mensagem fotográfica. Assim, ao tomaruma imagem, se ele utilizar uma lente grande-angular, por exemplo, saberáos resultados visuais que ela produzirá. Se lançar mão de um elemento dalinguagem fotográfica, como o plano médio, por exemplo, saberá queesse plano interage o sujeito ao ambiente; também saberá antecipadamenteque se fizer a tomada em ângulo plongèe poderá desvalorizar o sujeito ouobjeto fotografado. Com o conhecimento dos efeitos visuais dos recursostécnicos e dos conceitos dos elementos da linguagem fotográfica, ele terámais probabilidades de manifestar, na mensagem fotográfica, seu pensar,sua opinião, sua intencionalidade de comunicação.Em tese, o processo é simples. Basta pegar a fotografia edesconstruí-la analiticamente, ou seja, identificar os recursos técnicosutilizados para obtê-la e os elementos da linguagem fotográfica utilizados

15para sua composição. Com base nessa desconstrução analítica e nosconceitos dos recursos e linguagem utilizados, é possível inferir ou seaproximar da intencionalidade de mensagem do fotógrafo. É uma espéciede percurso gerativo do criador à criatura.De 2000 aos dias atuais, esta proposta metodológica foi utilizadaem diversos trabalhos de conclusão de curso de graduação, em muitasmonografias de pós-graduação Lato sensu e em algumas dissertações demestrado. Vários artigos utilizando-a foram publicados em periódicoscientíficos de todo o país. Neste livro, ela é utilizada nos textos Aintencionalidade de comunicação no fotojornalismo: análise dasimagens do latrocínio de Isabella Garcia Lopes (p.27-49), que dividoa autoria com Fernanda Grosse Bressan, ex-aluna da especialização emfotografia e atual estudante do mestrado em comunicação, e Foto-choquee tragédias no fotojornalismo: análise fotográfica dos terremotosno Haiti e no Japão pelo blog Big Picture (p.51-74), de AndersonJosé da Costa Coelho, estudante do mestrado em comunicação da UEL,e Anna Letícia Pereira de Carvalho, ex-aluna da especialização emfotografia e atual estudante do mestrado em comunicação da FaculdadeCásper Líbero, de São Paulo.O primeiro texto traça um comparativo de como dois jornais deLondrina, a Folha de Londrina e o Jornal de Londrina, cobriram umcaso de latrocínio ocorrido em um sinal de trânsito no centro da cidade. Osegundo também traça um comparativo, desta feita com a cobertura queo blog Big Picture deu às tragédias (terremotos) do Haiti, em 2010, e doJapão, em 2011. Em ambos os casos, o objetivo dos autores foi, pormeio da proposta metodológica da intencionalidade de comunicação,identificar ou se aproximar da mensagem dos fotógrafos e editores dosjornais e do blog.Em 2001, o curso iniciou um de seus principais projetos dedocumentação fotográfica, intitulado A História de Londrina contada

16por imagens (2001-2019). Este projeto está documentando astransformações paisagísticas urbanas e rurais do município de Londrinadesde 2001 e pretende continuar documentando-as até 2019, ou seja,durante duas décadas.Para coletar fotografias e constituir um banco de imagens com esseintuito, em 2001 foi lançada a I Maratona Fotográfica Clic o Seu Amorpor Londrina, um concurso fotográfico no qual os participantes sãoconvidados a fotografar as belezas e as relevantes transformações domunicípio. As maratonas acontecem a cada dois anos, sempre nos anosímpares. De cada uma delas, 100 fotografias são selecionadas para umaexposição fotográfica e passam a compor o banco de imagens quedocumenta as transformações paisagísticas de Londrina. De cadamaratona também são selecionadas 26 fotografias para a confecção dedois calendários de mesa, com 13 fotografias cada um, que são distribuídosgratuitamente para autoridades representativas do município, segmentosorganizados da sociedade londrinense, além de estudantes, professores epesquisadores da Universidade Estadual de Londrina.O objetivo é, em 2019, realizar uma grande exposição comfotografias que documentaram as transformações históricas de Londrinade 2001 a 2019, ou seja, com imagens tomadas ao longo de vinte anos.Durante esse período, deverão ser realizadas dez maratonas fotográficas(ainda faltam realizar as de 2013, 2015, 2017 e 2019). Assim, a sociedadepoderá, por meio dessa documentação fotográfica, exposta em forma de“linha do tempo”, acompanhar e entender como as paisagens urbanas erurais foram transformadas durante duas décadas. É “a história de Londrinacontada por imagens”.O acervo fotográfico – banco de imagens – das maratonas é umarica fonte de pesquisa para diversas áreas do conhecimento. Neste livro,por exemplo, ele foi a matéria prima para a pesquisa de duas profissionaisda arquitetura: Natalia Nakadomari Bula, que também cursou aespecialização em fotografia, e Milena Kanashiro, professora de arquitetura

17e urbanismo da UEL. Juntas, produziram o texto Maratona FotográficaClic o Seu Amor por Londrina: elementos formadores da imagemna cidade (p.75-88), que traz importantes contribuições da arquiteturapara a sociedade, como um todo, e para os estudos de comunicaçãovisual, em particular. Elas analisaram, com referenciais teóricos dapercepção ambiental, as fotografias das quatro primeiras maratonasfotográficas (2001, 2003, 2005 e 2007) para apurar sua inserção noselementos formadores da imagem da cidade, propostos por Kevin Lynch.De acordo com esse autor, os elementos são: limites, setores, marcos,vias e nós.Desde o início, um dos objetivos – e uma das maiorespreocupações – do curso foi preparar pessoas para o exercício dacarreira docente, especialmente para o ensino da fotografia. Duasdisciplinas – Métodos e técnicas aplicadas ao ensino da fotografia eDesenvolvimento de habilidades docentes no ensino da fotografia– são especialmente voltadas para este objetivo. Em uma delas, osestudantes são incentivados a prepararem projetos de ensino defotografia para serem aplicados em escolas, associações de bairros oude classes, organizações não governamentais, comunidades carentes eoutras. Um desses projetos foi aplicado pelas estudantes Michelli Mahnicde Vasconcellos, da especialização em fotografia, e Mariana FerreiraLopes, do mestrado em comunicação da UEL, em um colégio em umaárea de vulnerabilidade social em Londrina. Da aplicação do projeto eda observação criteriosa de sua aplicação e resultados obtidos, as autorasproduziram o texto A fotografia como materialização da relaçãoentre sujeito e espaço: a experiência de oficinas de fotografia eleitura de espaços no Colégio Estadual Ana Molina Garcia, emLondrina (PR) (p.89-110) que, além da experiência didática, mostracomo o projeto, gerado em uma das disciplinas do curso, contribuiupara o despertar do sentimento de cidadania dos estudantes do colégioque, por meio das oficinas, descobriram seu papel e responsabilidadena preservação dos espaços onde vivem e estudam.

18A toda engajada Júlia Mariano Ferreira, que veio de Goiânia (GO)para cursar a especialização em fotografia na UEL e agora cursa o mestradoem arte e cultura visual na Universidade Federal de Goiás (UFG), nãoapenas aplicou seu projeto em uma comunidade carente como seentusiasmou com o assunto e continuou a estudá-lo. Tenho o prazer cívicoe acadêmico de dividir com ela a autoria do texto A representaçãofotográfica dos outros: múltiplas possibilidades de construção ede leituras (p.111-129), no qual estudamos o processo de inclusãosocial, por meio da fotografia, das favelas do Rio de Janeiro. Algumasexperiências, principalmente a vivenciada pelo Projeto Viva Favela, estãomudando de representação (produzida por atores externos) paraapresentação ou autorrepresentação (produzida por membros da própriacomunidade) a imagem fotográfica de comunidades cariocas.O Viva Favela é um movimento não governamental que objetivaa produção de uma identidade própria, constituída a partir dacomunidade, em detrimento do conhecimento ofertado pelos meiosde comunicação convencionais, que constroem um imaginárioexterior sobre a favela. Nesse movimento, os moradores produzemnarrativas endógenas polifônicas sobre o cotidiano, oferecendoao leitor das imagens a oportunidade de desvencilhar-se dequaisquer ideias pré-concebidas pelos moradores do asfalto arespeito da favela. Trata-se de uma representação crescente nasfavelas. Denominada de ‘autorrepresentação fotográfica’, é umamontoado narrativo que permite conhecer a história de um povo,suas tradições religiosas, culturais, políticas, enfim um conjuntode traços e lembranças, assim como experiências que configuramsua identidade coletiva. (FERREIRA; BONI, 2011, p.121).Em 2005, o curso lançou a revista Discursos Fotográficos, nascidapara, em um primeiro momento, ser um espaço no qual pesquisadores,professores e estudantes da especialização – e também da graduação –pudessem dar vazão ao resultado de suas pesquisas e geração deconhecimentos. O primeiro número foi absolutamente endógeno, trouxe

19artigos apenas dos professores e estudantes da especialização e de algumasparcerias entre os professores da pós-graduação e estudantes degraduação. E nem poderia ser diferente, afinal a revista não existia e, claro,ficaria difícil convidar colaboradores externos para nela publicarem. Elessó costumam aceitar convites de revistas que já estejam circulando comperiodicidade garantida, indexada (de preferências em vários e importantesindexadores internacionais) e ranqueada no sistema de avaliação conhecidocomo Qualis Capes.A partir do segundo número, a revista tornou-se exógena, ou sejacomeçou a publicar contribuições externas, mas sua periodicidadecontinuava anual. Ela nasceu anual por questão de recursos (falta derecursos, claro!), pois todas as despesas com produção, impressão edistribuição corriam por conta da especialização em fotografia. Circulavasempre no dia 19 de agosto, o Dia Mundial da Fotografia. E assim foi até2007. Em 2008, com o início das atividades do mestrado, ela passou aser semestral. Além de 19 de agosto, começou a circular também no dia19 de março, Dia de São José.Hoje, com onze edições publicadas e a décima segunda na forma(irá circular dia 19 de março de 2012), ela é considerada a mais importanterevista do país na área de visualidade. Possui as versões impressa eeletrônica1, nunca atrasa a circulação e está ranqueada como B-3 peloQualis Capes. Entre 75% e 90% dos artigos publicados são contribuiçõesexternas, inclusive do exterior. Desde 2008, todos os números trazempelo menos uma contribuição internacional. E, claro, desde seu início,muitos artigos sobre fotojornalismo foram publicados. Não sem justa causa:o fotojornalismo foi – e continua sendo – um dos impulsionadores docurso de especialização em fotografia.Disponível para r/revistas/uel/index.php/

20Este livro também traz textos sobre fotojornalismo. Além do quetraça um comparativo da cobertura fotográfica de um caso de latrocínioem Londrina, a jornalista maringaense Juliana Daibert, do curso deespecialização em fotografia, em parceria com Ana Lúcia Rodrigues,professora da pós-graduação em ciências sociais da Universidade Estadualde Maringá, produziu o trabalho intitulado Retratos criminosos: ofotojornalismo e as diferentes narrativas de criminalidade (p.131149), no qual demonstram a parcialidade da imprensa maringaense(parcialidade, aliás, que pode ser estendida para toda a imprensa brasileira)na cobertura de crimes. Quando o suspeito é de classe menos favorecida,já é tratado como culpado, com linguagem chula e jargões preconceituosos,expostos em fotografias frontais, com pouca roupa; quando o suspeito érico, político ou personalidade é considerado apenas como suspeito,fotografado em circunstâncias adequadas a um acusado e tratado comrespeito nos textos.Outro texto sobre fotojornalismo é do fotógrafo RodolphoCavalheiro Neto, paulistano que veio cursar a especialização em fotografiana UEL. Ele aborda uma nova tendência no fotojornalismo, a dos coletivosfotográficos, na qual os autores abdicam dos créditos individuais pelocrédito coletivo em suas fotografias. O texto O novo fotojornalismo eos coletivos fotográficos (p.151-168) trata dessa nova proposta, mostracomo os coletivos têm inovado no, segundo o autor, “fotojornalismoconservador” praticado no Brasil. Mais que isso, pontua a tendência deatuação estética dos coletivos Cia. de Foto e Garapa, com suasparticularidades e individualidades enquanto sujeitos e coletivos.Em 2007, ao comemorar dez anos de atividades, o curso deespecialização estava consolidado e a revista Discursos Fotográficoscirculava com regularidade e sem atrasos. Com isso, julgamos ser omomento de dar entrada, nas instâncias formais, ao processo de criaçãodo Mestrado em Comunicação Visual, aprovado sem quaisquer

21restrições ou diligências pela Capes – Coordenação de Aperfeiçoamentode Pessoal de Nível Superior. Foi o primeiro mestrado voltadoexclusivamente para a visualidade no país. É claro que gostaríamos depedir o credenciamento de um mestrado em fotografia, mas sabíamosque a Capes não iria aprovar um recorte tão específico. Então, solicitamosautorização para o mestrado em comunicação, com área de concentraçãoem comunicação visual. Sabíamos – e isso se confirmou com a ofertadas primeiras turmas – que a grande vedete do mestrado seria afotografia.Com o início das atividades do mestrado, em 2008, abrimos umalinha de pesquisa e projetos voltados para fotografia e memória. Váriasdissertações já foram defendidas com referenciais teóricos específicosdessa área, algumas, inclusive, com a proposta metodológica daintencionalidade de comunicação. Tanto investimento de tempo e,principalmente, em recursos humanos nesta linha de pesquisa surtirambons frutos. Fabiana Aline Alves, ex-aluna da especialização em fotografiae do mestrado em comunicação da UEL, hoje professora colaboradorada Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), de Guarapuava(PR), contribui neste livro com o texto O fotojornalismo na construçãodo conhecimento histórico: a cobertura de Veja sobre aimplantação do AI-5 (p.169-199), no qual demonstra a importânciado jornalismo e do fotojornalismo na recuperação e preservação damemória. Neste sentido, a Universidade Estadual de Londrina é umexpoente no país.A UEL, modéstia inclusa, está sempre um passo à frente. Criou oprimeiro curso de pós-graduação Lato sensu em fotografia do país,mantém em circulação a mais importante revista especializada em imagem,e criou o primeiro mestrado em visualidade do Brasil. Apresentou umaproposta metodológica, a da intencionalidade de comunicação e, desde2009, está trabalhando para consolidar uma nova técnica metodológica,a do uso da fotografia como disparadora do gatilho da memória.

22Essa percepção surgiu durante o processo de orientação demestrado de Maria Luisa Hoffmann que, em um primeiro momento, tinhaplanejado pesquisar a estética fotográfica de Sebastião Salgado em doisde seus documentários (Êxodos e Gênesis), mas acabou se rendendoaos encantos do uso da fotografia para a recuperação e preservação damemória e mudou seu projeto de pesquisa. Sua dissertação foi emfotografia e memória e hoje, doutoranda na Escola de Comunicação eArtes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), continua pesquisandofotografia e memória, sob orientação do Prof. Dr. Boris Kossoy. Maisque isso: a Malu, como é carinhosamente chamada por todos, tornou-seprofessora do curso de especialização. Para este livro, ela contribui como texto A fotografia aliada à história oral para a recuperação epreservação da memória (p.201-229), que elucida como a fotografia ea história oral têm sido utilizadas, de maneira associada, para a recuperaçãoe preservação da memória.O texto da Maria Luisa Hoffmann mostra os caminhos para ouso da fotografia como gatilho disparador da memória. Por sua vez, otexto A importância da imagem na recuperação histórica dosdesfiles de aniversário de Santa Mercedes (SP) (p.231-264) – quetenho o prazer de dividir a autoria com minha orientanda daespecialização em fotografia, Letícia Bortoloti Pinheiro –, retrata umaexperiência em que, utilizando esses caminhos metodológicos, mostrao resultado obtido em uma pesquisa realizada em Santa Mercedes,pequena cidade do interior de São Paulo, sobre o uso da fotografiapara a recuperação da memória de seus famosos desfiles deaniversários realizados na década de 1960.Outras experiências neste sentido estão sendo realizadas em diversascidades dos estados do Paraná e São Paulo. A pretensão é, até o final de2013, publicarmos um livro para oficializar o neologismo, atribuir-lheconceitos, indicar os procedimentos metodológicos para seu uso em

23pesquisa, mostrar os resultados obtidos e descrever percepções verificadasao longo do processo, ou seja, das experiências de pesquisa já encerradasou ainda em desenvolvimento.Em 2010, o curso lançou seu segundo livro: O papel do ParanáNorte na construção da Santa Casa e o esporte nas ondas do rádio:duas experiências históricas da imprensa londrinense. Este livro, narealidade, tem uma proposta bastante simples: mostrar que teorias emetodologias consagradas mundialmente podem ser aplicadas em eventose/ou situações locais, com resultados bastante positivos para a sociedaderegional, seja na quantidade e qualidade de pesquisa, seja na recuperaçãoe preservação da memória. Em suma, o que o livro propõe é queprofessores e estudantes prestem uma espécie de serviço à sociedade emque trabalham, residam ou estejam inseridos, aplicando conhecimentosuniversais em estudos locais.Para tanto, o livro juntou dois trabalhos de conclusão de curso. Oprimeiro adotou uma teoria universal do jornalismo – o jornalismo dedesenvolvimento – e a aplicou num caso londrinense: o papel e aimportância do jornal Paraná Norte na construção da Santa Casa deLondrina, nas décadas de 1930 e 1940. O segundo adotou umametodologia de pesquisa universal – a história oral – e a aplicou narecuperação da história do rádio esportivo londrinense. Mais que isso.Os dois trabalhos usaram fotografias como fonte de pesquisa, comodisparadora do gatilho da memória dos entrevistados, para dirimir dúvidase para corrigir erros históricos que constavam na literatura disponível sobrea história de Londrina. Ou seja, a fotografia, além de seus usos tradicionaise conhecidos, serviu para ativar novas lembranças, somar novosconhecimentos aos já existentes, e até para corrigir erros históricos.Nestes 15 anos de atividades ininterruptas, o curso de especializaçãoem fotografia trouxe muita gente boa da academia e do mercado de trabalhoa Londrina. Da academia vieram Boris Kossoy, Pedro Vasquez e Simonetta

24Persichetti. Do mercado de trabalho, Adair Felizardo, Alexandre Mazzo,Cláudio Feijó, Clício Barroso, Emídio Luisi, Haroldo Palo Júnior, IvanLima, Miguel Chikaoka, Sérgio Sade e Walter Firmo, dentre outros. Ouseja, o curso está cumprindo seu propósito de estreitar as relações daescola com o mercado de trabalho e vice-versa.A vinda dessas pessoas, de forma positiva, acabou influenciandoos estudantes a se enveredarem por novos objetos de pesquisa, ou seja,contribuiu para os múltiplos olhares sobre a fotografia. Todos os anos sãoapresentados diversos TCCs inovadores e contributivos. Em 2011, claro,não foi diferente. Selecionamos três textos que trazem referenciais teóricoscomplementares aos normalmente utilizados na grade curricular do curso.O primeiro deles, Álbuns de família e álbuns digitais: a propósito desemelhanças e diferenças (p.265-284), de Anderson Timóteo Ferreirae Katharine Nóbrega da Silva, ele paulistano e ela paraibana, traça umcomparativo entre os tradicionais álbuns de família e as novas propostaseletrônicas de álbuns virtuais. Os autores apuraram que as novas tecnologiastêm facilitado e diversificado as formas de exposição de fotografias pessoais,mas constataram que alguns velhos hábitos utilizados nos antigos álbunsfísicos de fotografia continuam norteando os novos álbuns virtuais. Densono conteúdo e leve na forma, o texto começa de forma provocativa, comuma brincadeira que está ganhando corpo na internet: “Ninguém é tão feiocomo na carteira de identidade, tão bonito como no Orkut, tão feliz comono Facebook, tão simpático como no Twitter, tão ausente como no Skype,tão ocupado como no MSN e tão bom como no Curriculum vitae.”Outro texto com referenciais teóricos complementares,principalmente da antropologia e que, ressalte-se, muito contribuem comos estudos de comunicação e visualidade, é o da estudante e professoraLetícia Silva de Jesus, hoje moradora no Rio Grande do Sul, mas que,com justiça, se autodenomina “cidadã do mundo”, em parceria com oProf. Dr. Alamir Aquino Corrêa, com longa experiência no ensino epesquisador da temática “representações da morte”. O texto, claro, não

25poderia ter um título mais identificador da área de pesquisa de ambos:Imagens silenciosas: a fotografia no cemitério sob uma abordagemfotoetnográfica (p.285-307). Resultado de um trabalho de observaçãoe tomadas fotográficas no cemitério municipal São Pedro, de Londrina, otrabalho analisa o papel da fotografia como mediadora de representaçõesimportantes para a preservação da imagem de pessoas falecidas. Nestecaso, assim como foi verificado no texto sobre os álbuns de família, foramconstatadas algumas mudanças na forma como os vivos preservam amemória de seus entes falecidos. Por uma questão de educação e ética,as famílias dos mortos foram contatadas (algumas não foram encontradas)para autorizarem a publicação da(s) fotografia(s) de seus entes queridos.A maioria considerou a publicação uma espécie de homenagem eprontamente autorizou a publicação; apenas uma família não autorizouque a fotografia tumular de seu filho fosse publicada neste livro. A vontadeda família, apesar de não haver implicações legais contrárias à publicação,foi respeitada.Por fim, uma contribuição interdisciplinar da ciência da informaçãopara a fotografia: Imagem fotográfica: processo de leitura e análisedocumental (p.309-330). Para a produção deste texto, Katiusa Stumpf,estudante da especialização em fotografia, que é bacharel embiblioteconomia e mestranda em ciência da informação na UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC), associou-se à pesquisadora Mariadel Carmen Agustín Lacruz, da Universidade de Zaragoza (Espanha),professora convidada do mestrado da UFSC. E não sem justa causa.Katiusa decidiu estudar fotografia para aplicá-la como nova temática elinha de pesquisa curricular, aperfeiçoando sua carreira acadêmica e vidaprofissional. A Profa. Dra. Maria de

O Curso de Especialização em Fotografia: Práxis e Discurso Fotográfico da Universidade Estadual de Londrina foi criado em meados de 1996 e começou suas atividades no início de 1997. Foi o primeiro curso de pós-graduação Lato sensu em fotografia do Brasil. Hoje, são mais de 40, mas o da UEL, com atividades ininterruptas nesses 15 anos,