Fundação Getulio Vargas Escola Brasileira De Administração Pública E De .

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGASESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESASMESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIALATRIBUTOS QUE INFLUENCIAM A DECISÃO DECOMPRA DE COMBUSTÍVEL MARÍTIMO (BUNKER)NO BRASILDISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE.FELIPE FERNANDES CORDEIRORio de Janeiro - 2016

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGASESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESASFELIPE FERNANDES CORDEIROATRIBUTOS QUE INFLUENCIAM A DECISÃO DE COMPRA DE COMBUSTÍVELMARÍTIMO (BUNKER) NO BRASIL.RIO DE JANEIRO2016

FELIPE FERNANDES CORDEIROATRIBUTOS QUE INFLUENCIAM A DECISÃO DE COMPRA DE COMBUSTÍVELMARÍTIMO (BUNKER) NO BRASIL.Dissertação apresentada ao Curso deMestrado Profissional Executivo emGestão Empresarial da Escola Brasileirade Administração Pública e de Empresaspara obtenção do grau de Mestre emAdministração.Orientador: Prof. Dr. Álvaro Bruno CyrinoRIO DE JANEIRO2016

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGVCordeiro, Felipe FernandesAtributos que influenciam a decisão de compra de combustívelmarítimo (bunker) no Brasil / Felipe Fernandes Cordeiro. – 2016.99 f.Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e deEmpresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.Orientador: Álvaro Bruno Cyrino.Inclui bibliografia.1. Marketing. 2. Navios - Combustíveis. I. Cyrino, Álvaro Bruno. II. EscolaBrasileira de Administração Pública e de Empresas. Centro de FormaçãoAcadêmica e Pesquisa. III. Título.CDD – 658.8

A Deus, que me ilumina e propicia a fé para superar osdesafios da vida.Aos meus pais, pelos ensinamentos.À Milene, pelo carinho, companheirismo, paciência eincentivo ao longo desta jornada.

AGRADECIMENTOSA Deus pela força necessária e fé, que me inspiraram a desafiar todos osobstáculos e conseguir chegar à etapa final desta pesquisa.Aos meus pais, Carlos e Maria, pela dedicação e investimento de parte dassuas vidas dedicadas à minha educação, pois foi por meio desta que pude chegaraté aqui. Mãe e pai, onde estiverem, tenho certeza que vocês estão muito felizes evibrantes por eu ter realizado mais este sonho.À minha esposa Milene, a grande incentivadora deste mestrado, pelo amor,carinho, companheirismo e incentivo necessários para que eu pudesse superartodos os desafios desta difícil e longa jornada. Agradeço imensamente pelapaciência, nos incontáveis momentos em que estive ausente, por todas as viagensque deixamos de realizar e férias que ficamos em casa para que eu pudesse mededicar a este trabalho.Aos meus irmãos, Fernando, Flavio e ao meu primo Gustavo, pelo estímulo eentusiasmo durante toda esta jornada.À toda minha família pelos estímulos que me fizeram perseverar ao longodesta caminhada e pela compreensão por todas as minhas ausências nos eventos econfraternizações que aconteceram durante o período do mestrado.Ao gerente geral de comercialização de óleos combustíveis e bunker daPetrobras, Guilherme Luiz de Carvalho Klingelfus, pelos conselhos sempreoportunos, pelo apoio constante e pela confiança depositada neste trabalho.Ao gerente de comercialização de bunker da Petrobras, Bernardo NoronhaLemos, pelo apoio, dedicação, entusiasmo e por ter percebido a utilidade destapesquisa.Ao gerente de operações e serviços de bunker da Petrobras, Carlos Magnode Araújo Christo, pelos conselhos, pelas valiosas contribuições e pelo apoiodurante todo o curso.Aos meus colegas da equipe da coordenação de operações de bunker, peloprofissionalismo e apoio durante todo o período do curso.À gerente de suporte ao comércio externo da Petrobras, Úrsula El-Amme deAlmeida, pelo apoio.Ao Lourenço, Felipe Chalhoub, Daniel Rosa, Edson Garrastazu, FernandoBraz, Luiz Fernando, Marcelo Ley, Marcele Parreira, Paulo Roberto e Ana Luiza pelarelevância das sugestões ao questionário durante a fase de pré-teste. Ocomprometimento e apoio da equipe comercial foram fundamentais para que estapesquisa pudesse ter cumprido a sua trajetória até o final.

Ao meu orientador professor, Dr. Álvaro Bruno Cyrino, pelas diretrizes econselhos que me fizeram chegar neste tema, além da enorme capacidade detransferência de conhecimento, experiência, paciência e entusiasmo, fundamentaispara que esta pesquisa pudesse ter atingido os seus objetivos.Ao professor Dr. Felipe Buchbinder, pelas inúmeras reuniões realizadas para,pacientemente, dirimir os questionamentos que iam surgindo durante a pesquisa.Ao professor Dr. Diego de Faveri Pereira Lima, pelas ótimas aulas demétodos quantitativos que me inspiraram a buscar este tema.Ao professor Rafael Guilherme Burstein Goldszmidt, pelo apoio na elaboraçãodos perfis da conjoint analysis e pelas valiosas dicas na elaboração do questionário.À professora Lucia Salmonson Guimarães Barros, por todo o auxílio eincansável paciência para dirimir minhas dúvidas com a ferramenta Qualtrics.A todos da coordenação do MEX 2015, pelo apoio e auxílio incansáveisdurante todo o curso.A todos que, direta ou indiretamente, me apoiaram e incentivaram nestacaminhada.

RESUMOHá uma discussão se o cliente de bunker (combustível marítimo) é sensível apenasao preço. Por tratar-se de uma operação de venda de produto associada a umserviço de entrega e dada a natureza intangível da operação, é possível que outrosatributos, com maior grau de intangibilidade, possam influenciar, conjuntamente, adecisão de compra. Ao identificar e avaliar os atributos do produto, elementosrelevantes nas decisões de compra, este trabalho pretende produzir como resultadofinal a avaliação e a importância percebida desses atributos por meio da aplicaçãoda metodologia de pesquisa de marketing, denominada conjoint analysis. cadas principaisteoriasrelacionadas ao valor percebido pelo cliente no contexto business-to-business (B2B)e também do papel moderador do preço na satisfação do cliente, buscandoidentificar, à luz dessas teorias, o nível de influência dos atributos do produto nasdecisões dos clientes em abastecerem suas embarcações no Brasil.Palavras-chave: Bunker. Combustível marítimo. Conjoint analysis. B2B. Marketing.Valor percebido.

ABSTRACTThere is a discussion on whether the bunker’s client (marine fuel) is only sensitive toprice. Since the sales transaction of a product is associated with a delivery service,and given the intangible nature of the operation, it is possible that other attributes,with a greater degree of intangibility, can jointly influence the purchase decision. Byidentifying and evaluating the product’s attributes, which are relevant factors inpurchase decisions, this study aims to produce as a final result an assessment ofthese attributes and their perceived importance through the application of amarketing research methodology, known as conjoint analysis. Thus, we intend toconduct a literature review of the main theories related to perceived customer valuein the business-to-business (B2B) context and also the moderating role of price incustomer satisfaction, in order to identify, in the light of these theories, the level ofinfluence of the product’s attributes in customers’ decisions in supplying their vesselsin Brazil.Keywords: Bunker. Marine fuel. Conjoint analysis. B2B. Marketing. Perceived value.

LISTA DE FIGURASFigura 1: Locais (portos e terminais) onde são realizados os abastecimentos e osrespectivos modais de entrega. 24Figura 2: Esquema simplificado de conexão entre a barcaça e a embarcação duranteo abastecimento. . 25Figura 3: Distribuição percentual relativa da quantidade total abastecida no ano de2015. . 26Figura 4: O processo de venda de bunker no Brasil e seu fluxo de informações . 28Figura 5: Hierarquia de valores para o cliente . 34

LISTA DE GRÁFICOSGráfico 1: Perfil dos respondentes de acordo com o tipo de empresa que ospesquisados representam. . 53Gráfico 2: Percentual de participação de cada segmento entre os armadores. . 54Gráfico 3: Percentual de participação de cada segmento entre os operadores deembarcações. . 55Gráfico 4: O perfil dos clientes estrangeiros, de acordo com a participação por tiposde empresas. 56Gráfico 5: A importância relativa dos atributos no estrato A. . 59Gráfico 6: A importância relativa dos atributos no estrato B. . 61Gráfico 7: A importância relativa dos atributos no estrato C. 63Gráfico 8: A importância relativa dos atributos no estrato D. 66Gráfico 9: A importância relativa dos atributos no estrato E. . 68Gráfico 10: A importância relativa dos atributos no estrato G. . 70Gráfico 11: A importância relativa dos atributos no estrato H. . 72

LISTA DE TABELASTabela 1: Atributos e respectivos níveis . 17Tabela 2: Atributos e expectativas de valores percebidos aplicados ao conceito desacrifícios e benefícios . 36Tabela 3: As afirmações e hipóteses relacionadas ao atributo tempo de entrega . 39Tabela 4: As afirmações e hipóteses relacionadas ao atributo lote de entrega . 39Tabela 5: As afirmações e hipóteses relacionadas ao atributo prazo de pagamento 40Tabela 6: As afirmações e hipóteses relacionadas ao atributo qualidade . 40Tabela 7: As afirmações e hipóteses relacionadas ao atributo preço . 40Tabela 8: As afirmações e hipóteses relacionadas ao atributo tipo de produto . 41Tabela 9: Os atributos do produto e seus respectivos níveis. . 46Tabela 10: Perfis finais após a realização do desenho fatorial fracionado(ortogonalidade) . 48Tabela 11: Conjunto das variáveis dummy do modelo de regressão multivariada. . 50Tabela 12: Importância relativa dos atributos para os respondentes no estrato A. . 59Tabela 13: Níveis de maior preferência para os respondentes no estrato A. . 60Tabela 14: Importância relativa dos atributos para os respondentes no estrato B. . 61Tabela 15: Níveis de maior preferência para os respondentes no estrato B. . 62Tabela 16: Importância relativa dos atributos para os respondentes no estrato C. . 63Tabela 17: Níveis de maior preferência para os respondentes no estrato C. . 64Tabela 18: Importância relativa dos atributos para os respondentes no estrato D. . 65Tabela 19: Níveis de maior preferência para os respondentes no estrato D. . 67Tabela 20: Importância relativa dos atributos para os respondentes no estrato E. . 68Tabela 21: Níveis de maior preferência para os respondentes no estrato E. . 69Tabela 22: Importância relativa dos atributos para os respondentes no estrato G. . 70Tabela 24: Níveis de maior preferência para os respondentes no estrato G . 71Tabela 24: Importância relativa dos atributos para os respondentes no estrato H . 72Tabela 25: Níveis de maior preferência para os respondentes no estrato H. . 73Tabela 26: Importâncias relativas referentes aos grupos 1 e 2. . 74Tabela 27: Importâncias relativas referentes ao grupo 3. . 74Tabela 28: Importâncias relativas referentes aos grupos 4 e 5. . 74Tabela 29 - Resultados dos testes das hipóteses . 78

LISTA DE SIGLASEUAEstados Unidos da AméricaBPBritish PetroleumMFMarine FuelIFOIntermediate Fuel OilcStcentiStokesMGOMarine GasoilB2BBusiness-to-businessISOInternational Organization for StandardizationTABGTerminal Aquaviário da Baía da GuanabaraTEMADRETerminal de Madre de DeusETAEstimated Time of ArrivalSPSSStatistical Package for Social Sciences

SUMÁRIO1 INTRODUÇÃO . 151.1 OBJETIVOS . 171.2 ESTRUTURA DA PESQUISA . 182 AS OPERAÇÕES DE ABASTECIMENTO A EMBARCAÇÕES NO BRASIL E NOMUNDO . 202.1 A EVOLUÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS MARÍTIMOS NO MUNDO . 202.2 TIPOS DE COMBUSTÍVEIS MARÍTIMOS DERIVADOS DE PETRÓLEO . 212.2.1 A especificação dos combustíveis marítimos . 222.3 O PERFIL DAS OPERAÇÕES DE ABASTECIMENTO REALIZADAS PELAPETROBRAS. 232.3.1 O processo de venda de Bunker no Brasil . 272.3.1.1 Condições comerciais no Brasil: preço e prazo de pagamento . 283 REFERENCIAL TEÓRICO . 313.1 INTRODUÇÃO . 313.2 O CONTEXTO BUSINESS-TO-BUSINESS (B2B) E DAS COMPRAS GLOBAIS . 323.2.1 Valor percebido . 333.2.2 O preço e seu papel moderador na satisfação do cliente . 374 METODOLOGIA . 394.1 HIPÓTESES. 394.2 COLETA DE DADOS . 414.3 O MÉTODO UTILIZADO: A CONJOINT ANALYSIS. 424.3.1 Terminologia . 434.3.2 Os métodos e suas aplicações. 444.4 A CONJOINT ANALYSIS NA PREFERÊNCIA DO COMPRADOR DE BUNKER. 465 RESULTADOS . 53

5.1 O PERFIL DOS PESQUISADOS . 535.2 OS RESULTADOS DA CONJOINT ANALYSIS . 565.3 TESTE DAS HIPÓTESES . 746 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS . 796.1 IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA . 796.2 IMPLICAÇÕES PARA A TEORIA . 806.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA . 81REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . 83APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO . 87APÊNDICE B - RESULTADOS DAS REGRESSÕES . 93

151INTRODUÇÃOHá três tipos de empresas: Empresas que tentam levar os seus clientesonde eles não querem ir; empresas que ouvem os seus clientes e depoisrespondem às suas necessidades; e empresas que levam os seus clientesaonde eles ainda não sabem que querem ir (HAMEL; PRAHALAD, 1996).O desenvolvimento do transporte marítimo facilitou a troca de mercadorias,reduzindo a distância entre os mercados produtores e consumidores; e, até hoje,essa atividade vem contribuindo para o desenvolvimento econômico dos países.No comércio mundial, cotidianamente, partem ou chegam de vários portos nomundo, diversos tipos de embarcações, levando ou trazendo os mais diferenciadosprodutos.Os combustíveis responsáveis pela movimentação das embarcações são oóleo combustível marítimo (marine fuel – MF ou intermediate fuel oil - IFO), que éutilizado no motor principal (motor de propulsão) de embarcações de médio e grandeporte, e o óleo diesel marítimo (marine gasoil - MGO), que é utilizado no motorauxiliar para a geração de energia elétrica e também no motor principal de algumasembarcações de pequeno porte. Tais combustíveis são comumente chamados debunker. Atualmente, o óleo combustível marítimo é o combustível mais amplamenteutilizado. No entanto, além de óleo combustível, outros combustíveis destilados sãotambém utilizados como bunker.Os custos com o bunker são responsáveis por, aproximadamente, 70% dototal das despesas com a viagem de um navio. Com isso, as empresas denavegação preferem comprar o combustível nos portos onde o custo é menor.Nesse aspecto, alguns armadores e operadores de embarcações preferem adquirirparte da sua necessidade de combustível, para uma determinada viagem, a partir deum porto que ofereça o bunker a preços mais vantajosos.Apesar do preço ser um atributo relevante na decisão de compra dos clientes,outros atributos são levados em consideração por esses compradores, que sãoelementos capazes também de influenciar direta e conjuntamente as decisões decompra. Tais atributos podem ser divididos em dois grupos. Um primeiro grupo, quepode ser denominado por atributos de percepção direta de valor pelo cliente,

16consiste naqueles que são resultados da percepção do cliente em relação a uma oumais características do serviço prestado ou do produto fornecido pelo supridor. Hátambém aqueles, em que o fornecedor não tem participação direta e sãodecorrentes exclusivamente das características ou fatores intrínsecos à operação,tais como o tradeoff em relação à capacidade de recebimento de combustível versusa capacidade de carga do navio. Assim, é possível que o total de carga transportadaem determinada viagem venha a limitar a quantidade de bunker a ser abastecida.Historicamente, na Petrobras, as vendas anuais de bunker consistem emcerca de 70% do seu total para clientes estrangeiros (longo curso) e os restantes30% para clientes nacionais, nas operações de transporte de carga entre portosnacionais (cabotagem). O volume de vendas para os clientes nacionais nacabotagem se mantém praticamente estável ao longo dos anos. Em vista disso,vislumbra-se como única alternativa para o aumento das vendas de bunker capturara parcela dos navios estrangeiros que viajam ao Brasil, que ainda não são clientesda Petrobras. Porém, a competição por este mercado é mais acirrada, tendo emvista que esses navios operam tanto nos portos brasileiros, quanto em outros portosno exterior e, consequentemente, têm a opção de abastecer nesses últimos.Há uma discussão se o cliente de bunker é sensível apenas ao preço. Portratar-se de uma operação de venda de produto, associado a um serviço de entrega,com cerca de aproximadamente 90% das entregas realizadas pelo modalaquaviário, por meio de embarcações denominadas barcaças e, dada a natureza daoperação, acredita-se que outros atributos com maior grau de intangibilidadepossam influenciar, conjuntamente, a decisão de compra. Os principais atributos,que possivelmente poderiam influenciar a decisão de compra dos clientes, além dopreço, foram evidenciados pela equipe comercial da Petrobras na fase inicial decoleta de informações para esta pesquisa. A determinação desses atributos deu-sede forma empírica por meio da discussão com a equipe comercial sobre quaisatributos seriam também importantes, além do preço, para a decisão de compra.Assim, foram definidos ao todo 6 atributos a serem analisados: Tempo de entrega; Lote de entrega; Prazo de pagamento; Qualidade;

17 Preço; Tipo de produto.Esses atributos serão comparados, entre si, por meio da técnica denominadaConjoint Analysis, uma técnica amplamente utilizada na área de marketing, paramedição conjunta da preferência relativa dos compradores por característicasespecíficas dos produtos. Para tal, foram definidos níveis para cada um dessesatributos, como pode ser observado na tabela 1.Tabela 1: Atributos e respectivos níveisTempo de entregaLote deentregaPrazo depagamentoQualidadePagamentoEntrega com atraso Abastecimentoantecipado(atrasando a partidaem umaISO 8217:2005comda oEntrega em tempoantecipadodividido emISO 8217:2010(conforme solicitado)(semduas barcaçasdesconto)21 dias daISO 8217:2012entrega30 dias daentregaFonte: O autor (2016).Preço no porto deSantos (Brasil) emcomparação com seuporto de compraalternativoTipo deprodutoInferiorIFO 380 cStIdênticoIFO 500 cStou IFO 700cStSuperior---1.1 OBJETIVOSO objetivo geral desta pesquisa é identificar em que nível de importânciarelativa cada um dos atributos do produto bunker, conjuntamente, influenciam adecisão de compra dos clientes.Os objetivos específicos da pesquisa são: Identificar a importância relativa de cada um dos atributos em relaçãoao tipo de atuação da empresa (armador, operador de embarcação,trading e broker);

18 Diagnosticar possíveis diferenças na preferência do cliente estrangeiro,que opera no longo curso, em relação ao cliente nacional, que operana cabotagem; Identificar os atributos de maior valor percebido pelos clientes.Ao identificar e avaliar os atributos de percepção de valor pelo cliente,elementos relevantes nas suas decisões de compra, este trabalho pretende produzir,como resultado final, a avaliação e a importância percebida desses atributos no“pacote” de valor ofertado pela Petrobras. Em consequência disso, o conhecimentooriundo deste trabalho de pesquisa poderá ser utilizado, pelo gestor, comoferramental para reposicionamento da proposta de valor pela Petrobras e, em últimaanálise, como ferramenta de captação e retenção de clientes estrangeiros, comvistas à consecução da meta de aumento de vendas.1.2 ESTRUTURA DA PESQUISANo capítulo 1, são apresentadas a introdução, os objetivos geral e específico,além da forma como o trabalho de pesquisa está estruturado.No capítulo 2, são apresentadas as operações de abastecimento aembarcações no Brasil e no mundo, a evolução dos combustíveis marítimos nomundo, os tipos de combustíveis marítimos derivados de petróleo, a especificaçãodos combustíveis marítimos, o perfil das operações de abastecimento realizadaspela Petrobras, o funcionamento do processo de venda de bunker no Brasil e ascondições comerciais relacionadas ao preço e prazo de pagamento.No capítulo 3 é realizada a revisão bibliográfica das principais teoriasrelacionadas ao valor percebido pelo cliente, o papel moderador do preço nasatisfação do cliente no contexto B2B e das compras globais.No capítulo 4, encontra-se a metodologia de pesquisa, onde sãoapresentadas as hipóteses, a coleta de dados, os métodos de aplicação da técnicaconjoint analysis, sua relevância e a aplicação desta técnica de marketing à análisedos atributos que influenciam a decisão de compra de combustível marítimo (bunker)no Brasil.

19No capítulo 5, são apresentados os perfis dos pesquisados, os resultados daconjoint analysis para cada um dos estratos analisados, assim como o teste dashipóteses formuladas no capítulo anterior.O capítulo 6 tratará da conclusão e das considerações finais, onde sãoapresentadas as implicações da pesquisa para a prática, para a teoria e as suaslimitações.

202AS OPERAÇÕES DE ABASTECIMENTO A EMBARCAÇÕES NO BRASIL ENO MUNDO2.1 A EVOLUÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS MARÍTIMOS NO MUNDOBunker é o nome genérico dado para o combustível utilizado porembarcações. A origem do nome bunker é proveniente do uso do carvão comocombustível pelas primeiras embarcações movidas a vapor. O carvão, utilizadocomo combustível, era então armazenado ao lado das caldeiras (aquecedores). Olocal onde armazenava-se carvão era chamado de bunker. Assim, o local dearmazenagem do carvão era denominado bunker e o próprio combustível, o carvão,passou a ser chamado de bunkers.No início do século XX (vinte), o empreendedor britânico Weetman Pearson,conhecido como Lord Cowdray, era proprietário de vários campos de petróleo erefinarias no México e, no ano de 1909, estabeleceu uma frota de navios-tanqueobjetivando o transporte para os EUA da sua produção de óleo. À mesma época, eleiniciou o uso do óleo como combustível em locomotivas. O potencial de vantagens,em termos de economia de mão de obra, maior espaço disponível para carga e aeficiência do óleo como combustível começavam a surgir comparativamente aomenor custo benefício do uso do carvão, pois o óleo combustível ocupava menorespaço a bordo para a mesma distância a ser percorrida, além do custo por milha doóleo ser bastante inferior ao do carvão.A partir da Primeira Grande Guerra Mundial, o acesso ao óleo (bunkers) comocombustível aos navios mercantes em maior escala permitiu o uso de tripulaçõesmenores e maior eficiência, à medida que a mão de obra necessária para amanipulação do carvão a bordo era muito maior que nas embarcações movidas aóleo ssosdePearsonevislumbravam a obtenção de grandes benefícios com a utilização do óleocombustível. Uma dessas pessoas era Sir Marcus Samuel, fundador da Shell. Elenecessitava criar demanda para o óleo combustível, produto excedente do processode refino de destilados, como a gasolina e o querosene, que eram distribuídos pela

21Shell em alguns portos de países espalhados pelo mundo. Entretanto, para tornareste produto rentável e comercial era preciso criar demanda para o mesmo.Sir Winston Churchill, à época primeiro Lorde do Almirantado, foi quemintroduziu, nos navios de guerra britânicos, os primeiros motores a óleo combustívelem substituição ao carvão. A revelação de que a Alemanha já planejava asubstituição do carvão pelo óleo, na propulsão dos motores de seus navios, ensejouuma decisão mais célere no mesmo sentido pelos britânicos.A Shell, que era uma empresa anglo-holandesa, acabou sendo preterida e oprimeiro contrato para o fornecimento de óleo combustível para a Marinha Britânicafoi assinado pela British Petroleum, conhecida atualmente como BP. Este primeirocontrato deu início à substituição dos depósitos de carvão por tanques de óleo, parao suprimento de bunkers pela Marinha Britânica e por Marinhas de outros países,que iniciaram, a partir do movimento Britânico e aproveitando a infraestruturadesenvolvida, um processo idêntico de substituição do carvão pelo óleo noabastecimento dos seus navios.A partir da Primeira Grande Guerra Mundial, os navios mercantes começarama ter acesso ao óleo combustível, permitindo a estes uma maior eficiência.Aproximadamente na década de 1940, mais da metade dos navios já eram movidosa óleo combustível1.No decorrer do tempo, mundialmente, a denominação bunkers evoluiu e foisubstituída pela expressão genérica bunker, para designar todo e quaisquercombustíveis marítimos derivados de petróleo utilizados na propulsão dos motoresauxiliares e principais de embarcações.2.2 TIPOS DE COMBUSTÍVEIS MARÍTIMOS DERIVADOS DE PETRÓLEOO combustível denominado bunker pode ser enquadrado em dois diferentestipos: residuais e destilados.O combustível residual é assim denominado porque é obtido a partir doresíduo do processo de refino, após a produção de todos os demais produtos1(DRAFFIN, 2012) Do livro Draffin, Nigel. An Introduction to Bunkering. Petrospot, Adderbury, Oxfordshire, p. 2,2012.

22economicamente mais rentáveis como a gasolina, o gasóleo, o propano, o butano, anafta e os óleos lubrificantes. É um produto denso e de cor negra. Geralmente, nãopode ser utilizado diretamente após o processo de refino, pois precisa ser misturadoa outros componentes para atingir uma especificação comercialmente aceita, alémda necessidade de ser tratado a bordo para que possa ser consumido nos principaismotores de propulsão das embarcações. São comumente chamados de óleoscombustíveis marítimos ou por MF (marine fuel), ou IFO (intermediate fuel oil) eainda por esses termos acrescidos das suas viscosidades, como IFO 380 cSt(centiStokes), IFO 500 cSt (centiStokes) ou IFO 700 cSt (centiStokes). A viscosidadeé a medida da resistência interna de um fluído ao fluxo, ou seja, é a resistênciaoferecida pelo líquido quando uma camada se move em relação a uma camadasubjacente. Nos óleos combustíveis marítimos a unidade de medida da viscosidadeé o centiStokes. Quanto mais viscoso é o bunker, menor é o seu preço. Portanto, oIFO 380 cSt é ofertado sempre a um preço inferior ao IFO 500 cSt e ao IFO 700 cSt.Neste contexto, é importante ressaltar que, os motores de propulsão deembarcações mais modernos têm sido desenvolvidos para consumir produtos maisviscosos, com vistas à redução do

dos perfis da conjoint analysis e pelas valiosas dicas na elaboração do questionário. À professora Lucia Salmonson Guimarães Barros, por todo o auxílio e incansável paciência para dirimir minhas dúvidas com a ferramenta Qualtrics. A todos da coordenação do MEX 2015, pelo apoio e auxílio incansáveis