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JOGO “QUÍMICA EM AÇÃO”: PREPARAÇÃO DE UMMATERIAL DIDÁTICO PARA O ENSINO DE QUÍMICA.Rubeneide F. de Sá (IC) *1, Carina S. de Morais Sá (IC)1, e Marília G. de Menezes (PQ)1, José EuzébioSimões Neto (PQ)1 e Maria Suely Costa da Câmara (PQ)1.1Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), Universidade Federal Rural de Pernambuco,Fazenda Saco, S/N, Serra Talhada, Pernambuco. * rubeneides@hotmail.comRESUMOEste trabalho foi resultado de uma experiência vivenciada na disciplina de Metodologiado Ensino de Química, tendo como objetivo a construção de um jogo didático commateriais de baixo custo para trabalhar conceitos e definições sobre as propriedadesgerais e específicas da matéria; substâncias e materiais e seus processos de separação. Ojogo didático produzido “Química em Ação” se constitui em uma proposta pedagógicaque tenta superar a prática ainda muito presente de resolução de exercícios tradicionaisde fixação.Palavras-chave: ensino de química, jogo didático e aprendizagem.INTRODUÇÃONa concepção tradicional de educação, o ensino de química esteve muitas vezesvoltado apenas à transmissão e retenção de conceitos. Atualmente, existem váriaspropostas pedagógicas de novas metodologias para um ensino mais dinâmico quepossibilite ao estudante ser sujeito do processo educativo e assim desenvolver umaaprendizagem mais significativa para essa área do conhecimento. Nesse contexto,inserem-se as atividades lúdicas que segundo Russel (1999) são atividades capazes depromover a compreensão do conhecimento químico, bem como de motivar os alunos agostarem da disciplina. É com esse entendimento que muitos professores de químicatem se utilizado de jogos didáticos para tornar o aprendizado desta mais divertido erelevante.

Sendo assim, escolhemos o jogo didático como uma atividade pedagógica paratrabalharmos com conceitos e definições sobre as propriedades gerais e específicas damatéria; substâncias e materiais e seus processos de separação. Em seguidadesenvolvemos o jogo didático “Química em Ação e avaliamos a sua utilização comorecurso didático com alunos do curso de licenciatura em química. O presente trabalhorelata as etapas dessa experiência vivenciada assim como os seus resultados (Anexoum).FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICAHá indícios de que os jogos tenham aparecido em vários lugares do mundoantigo, tais como Índia, China, Japão, Pérsia, África do Norte e Grécia. Depois, os jogosde tabuleiro chegaram até Roma e outros países da Europa (RAMOS, 1990). SegundoBorges e Oliveira (1999) os jogos têm uma importante relação com o desenvolvimentoda inteligência, sendo uma ferramenta útil para o processo de motivação e para oaprendizado de conceitos. Nessa direção, Soares (2006) ressalta que o jogo é uminstrumento que desperta o interesse, devido ao desafio que ele impõe ao aluno. Antunes(1999), por sua vez, afirma que os jogos de tabuleiro exercem fascínio em crianças eadultos (Brasil, 2006). Os jogos incentivam o trabalho em equipe e a interação alunoprofessor auxiliando o raciocínio e habilidades, facilitando a aprendizagem de conceitos(Vygotsky, 1989).Os jogos quando são elaborados com um objetivo de atingir conteúdosespecíficos para ser utilizado no meio escolar, é denominado de jogo educativo. Noentanto, se ele não possuir objetivos pedagógicos claros e sim ênfase ao entretenimento,então os caracterizamos de entretenimento. De acordo com Kishimoto (1996), o jogoeducativo tem duas funções. A primeira é a função lúdica, propiciando diversão e oprazer quando escolhido voluntariamente. A segunda é a função educativa, ensinandoqualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber e sua compreensão de mundo.A utilização de jogos didáticos pode atingir vários objetivos, como osrelacionados ao desenvolvimento da inteligência e da personalidade, fundamentais paraa construção de conhecimentos; à socialização; o envolvimento da ação, do desafio emobilização da curiosidade e à criatividade (MIRANDA, 2001).Neste sentido, o jogo torna-se uma ferramenta capaz de desenvolver níveisdiferentes de experiência pessoal e social e que leva o professor à condição de condutor,

estimulador e avaliador da aprendizagem. Além disso, o professor pode auxiliar o alunona tarefa de formulação e de reformulação de conceitos ativando seus conhecimentosprévios e articulando esses conhecimentos a uma nova informação que está sendoapresentada (Pozo, 1998).É possível encontrar diversos jogos educativos envolvendo assuntos variados daquímica, destacando sempre a eficiência em despertar atenção nos alunos. Tal interessena elaboração deste recurso didático advém da diversão que, muitas vezes, produz efeitopositivo no aspecto disciplinar (Soares e Cavalheiro, 2006; Oliveira e Soares, 2005;Soares e cols., 2003; Eichler e Del Pino, 2000; Giordan, 1999; Russell, 1999).METODOLOGIAPara a construção do material realizamos inicialmente pesquisas de embasamentoteórico sobre as possibilidade e limitações do jogo como recurso didático e sobre osconteúdos químicos abordados. Em seguida, baseado no jogo da GROW (Imagem emação), fizemos adaptações e modificações objetivando elaborar um jogo didáticoinovador para o ensino de química, ao qual nomeamos de “Química em Ação”.As cartas do jogo foram estruturadas a partir de três conteúdos de química geralá saber: misturas e substâncias e suas separações, propriedades gerais e específicas damatéria e estados da matéria e suas transformações (Figura 01), um desafio químico echaradas químicas (Figura 02).Figura 01 – Cartas principais

As cartas principais vêm marcadas com letras que representam diferentes categoriasrelacionadas à química. São seis as categorias possíveis:P – Propriedades Gerais e Específicas da Matéria.M – Misturas e Substâncias – incluindo seus processos de separação.C – Charada Química – adivinhações relacionados a termos químicos.E – Estados da Matéria e suas transformaçõesT – Todos jogam – perguntas contextualizadas ou não relacionadas a conteúdosquímicos trabalhados nas categorias P, M, E.D – Desafio Químico – propõe desafios para equipe.Figura 02 – Cartas AdicionaisO tabuleiro (Figura 03) desenvolvido para este jogo buscou incorporar elementosda alquimia – usando os quatro elementos da natureza – fogo, terra, água e ar. Notabuleiro também se encontra o símbolo de reatividade, no qual se o peão da equipe cair,terá que começar a jogar novamente. O objetivo das equipes é levar o peão a última casado tabuleiro.Figura 03 - Tabuleiro

O jogo é composto por 1 tabuleiro, 4 pinos, 1 dado, 1 cronômetro de tempo e 80cartas. Para jogá-lo, os participantes devem dividir-se em no mínimo duas e no máximoquatro equipes, não havendo limites de jogadores para as equipes, desde que o professorpossa coordenar de forma que não haja dispersão dos alunos.As cartas devem ficar embaralhadas no centro da mesa e divididas por suascores. Devem-se providenciar lápis e papel para cada equipe, ou pincel anatômico paraquadro branco e apagador. Cada equipe escolhe um peão e o coloca no início dotabuleiro. Nas cartas marcadas com P, M, E, as equipes devem estabelecer quaisparticipantes serão os primeiros a desenhar.O objetivo básico é levar o peão a última casa do tabuleiro – e assim vencer ojogo. As regras do jogo podem ser observadas no Quadro 1.Quadro 1: Regras do Jogo “Química em Ação”1 - Para começar o jogo, cada equipe deverá jogar o dado duas vezes. A equipe que obtiver maior numero é que começa ajogar – havendo empate entre duas ou mais equipes, as mesmas jogam novamente o dado duas vezes. A equipe que venceuno dado, começa desenhando palavras referentes a categoria P das cartas – se a equipe acertar, joga o dado novamente eanda no tabuleiro – se a equipe errar passa a vez para outra equipe, que terá que desenhar palavras refente a categoria P dascartas – se a equipe acertar, joga o dado novamente e anda no tabuleiro.2 – O desenhista não poderá usar comunicação verbal, nem usar letras, números, nomenclaturas.3 – Dois ou mais peões podem ocupar, ao mesmo tempo, a mesma casa no tabuleiro.4 – Quando o peão de alguma das equipes estiver na casa todos jogam, todas as equipes participam da jogada. A equipeque acertar primeiro, ganha o direito de continuar jogando.Obs.: Na carta todos jogam – o juiz fará a pergunta as equipes – logo em seguida, começa-se a contar o tempo para asequipes discutirem qual resposta será dada. A equipe que primeiro obtiver a resposta sinaliza para o juiz, ganhando odireito de responder a pergunta.5 – Se nenhuma das equipes acertar a resposta, a vez é passada para a equipe seguinte.6 – Enquanto uma equipe joga a outra observa em silêncio.7 – As cartas conterão outras regras que guiarão os jogadores no tabuleiro.8 – As cartas de charadas químicas, desafio químico e todos jogam serão lidas pelo juiz.9 – Se a equipe cair no símbolo de radiotividade voltará para o ínicio do jogo.10 – O aluno representante da equipe pode optar entre fazer a mímica ou desenhar para o seu grupo.Durante o jogo, o professor assume a função de mediador entre os grupos,esclarecendo possíveis dúvidas e também incentivando a cooperação, a discussão e amanifestação de diferentes pontos de vista na realização de tarefas entre os membrosdos grupos.Aplicação e avaliação do jogo: resultadosO jogo foi aplicado com 12 estudantes do 6º período do curso de Licenciaturaem Química, da Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural dePernambuco (UAST/UFRPE), organizados em quatro grupos de três pessoas, em duasrodadas. Após a aplicação do jogo, os licenciados responderam individualmente um

questionário objetivando avaliar enquanto futuros professores de química o jogoelaborado apontando as potencialidades e os limites para em seguida serem feitas asreformulações necessárias para a sua aplicação com estudantes do ensino médio.Resultados e DiscussãoNos questionários entregues aos estudantes, interessou-nos saber sobre as regrasdo jogo, as aprendizagens adquiridas e sugestões. Ao serem questionados se consideramo jogo didático uma metodologia de ensino eficiente (Questão 1), 100% dos licenciadosafirmaram que sim e justificaram suas respostas apontando que o jogo facilita aabordagem dos conteúdos de química, sendo um meio atraente e de caráter dinâmicono qual o aluno busca o conhecimento sem o peso exaustivo da sala de aula. No que serefere à retenção dos assuntos abordados em sala de aula (Questão 2), 95% dosentrevistados afirmaram que os conteúdos são melhores retidos quando abordados pormeio dos jogos, além de aumentar significativamente o número de esquemas einterações mentais. Na opinião de 92% dos licenciados o jogo Químico em Ação(Questão 3) é contextualizado e por isso facilitará os alunos do ensino médio a teremum bom rendimento em relação aos conteúdos abordados no jogo. Quandoquestionados se o jogo se constitui um instrumento formativo, que prepara para vida emcomum e para as relações sociais (questão 4), 98% dos participantes colocaram queacreditam que este jogo tem caráter formativo, por permitir que os integrantes dasequipes interajam de modo a desenvolver uma cooperação, ajudando na preparação deum cidadão. 100% dos entrevistados responderam quanto as característica do jogo(Questão 5 e 6) e afirmaram que em nenhum momento do jogo se encontraram confusosou dispersos, o mesmo quantitativo também consideraram ser um jogo divertido edinâmico. Ao tratar sobre a interação com a sua equipe no momento da vivencia dojogo (questão 7) 88% afirmaram ter tido boa interação com sua equipe. Quanto àcompreensão das regras do jogo (questão 8) 90% consideraram as regras claras. Quantoao jogo 100% dos licenciados o classificaram ótimo (Questão 9), e por fim segundo oslicenciados sugeriram a aplicação do jogo aos alunos do ensino médio (Questão 10).

CONSIDERAÇÕES FINAISA utilização de jogos relacionados aos conteúdos de química mostrou ser uminstrumento facilitador no processo de ensino-aprendizagem capaz de motivar e melhora relação aluno-professor.Além de ser uma boa alternativa na avaliação daaprendizagem.Em nossa proposta, o jogo foi utilizado com a função lúdica de despertar ointeresse dos alunos, devido ao desafio que lhes impõem, e com funções didáticasdiversas advindas das ações tomadas por estes para realizarem essa atividade lúdica.Diante do que vivenciamos em sala de aula com a execução da atividade,notamos que o jogo é um material didático motivador, dinâmico e válido naaprendizagem de conceitos científicos. Além de mobilizar o raciocínio e outrascompetências cognitivas.Os jogos também auxiliam na construção das relações sociais e individuais, queenvolve os alunos a trabalhar em equipe, a compartilhar os conhecimentos, tomaremdecisões e respeitar as regras. Cabe salientar aqui que os jogos servem como suportespedagógicos e que o professor pode confeccionar seu próprio jogo, de acordo com suasnecessidades, para diversos assuntos relacionados com os conteúdos de química.AGRADECIMENTOSAgradecemos a Universidade Federal Rural de Pernambuco, a professoraMarília Gabriela e o professor Euzébio Simões e aos alunos do 6 e 7 período deLicenciatura em Química.REFERÊNCIASRUSSEL, J.V. Using games to teach chemistry. Jornal of Chemical Education, v.76,n.4.p. 481 - 484 1999.BORGES, M.A.F e OLIVEIRA, S.P. Learning biology with gene. Proceedings of thePED’99 Conferece, Exeter, England, 1999.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.ANTUNES, C. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 11ª ed.Petrópolis: Editora Vozes, 1999.KISHIMOTO, T.M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1996.RAMOS, E.M.F. Brinquedos e jogos no ensino de Física. São Paulo: Universidadede São Paulo, 1990. Dissertação de Mestrado, 230 p.SOARES, M.H.F.B. e CAVALHEIRO, E.T.G. O ludo como um jogo para discutirconceitos em termoquímica. Química Nova na Escola, n. 23, p. 27-31, 2006.MIRANDA, S. (2001). No Fascínio do jogo, a alegria de aprender. Ciência Hoje, v.28,p. 64-66.POZO, J.I. (1998). Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 3ª ed. (Trad. J.A. Llorens).Porto Alegre: Artes Médicas, 284p.OLIVEIRA, A.S. e SOARES, M.H.F.B. Júri químico – uma atividade lúdica paradiscutir conceitos de química. Química Nova na Escola, n.21, p.18-24, 2005.SOARES, M.H.F.B.; OKUMURA, F. e CAVALHEIRO, T.G. Proposta de um jogodidático para ensino do conceito de equilíbrio químico. Química Nova na Escola, n. 18,p. 13-17, 2003.GIORDAN, M. O papel da experimentação no ensino de ciências. Química Nova naEscola, n. 10, p. 43-49, 1999.EICHLER, M.; DEL PINO, J. C. Carbópolis – um software para educação química.Química Nova na Escola, n. 11, p. 10-12, 2000.

ANEXO IQuestionamento para Pesquisa:Jogo “Química em Ação”!Sobre o aluno entrevistado:!Nome: período: .!Questões dissertativas prévias:!1. Você acha o jogo didático um método de ensino eficaz? Justifique.!!2. Ao recorrer ao uso de jogos didáticos no processo ensino-aprendizagem, o aluno terá um aumento deretenção dos assuntos estudados?!3. Em relação ao jogo “Química em Ação”, na sua opinião o aluno de ensino médio terá um bom rendimentode aprendizagem nos temas de químicas abordados pelo jogo? Por quê?!4. Esse jogo é um instrumento formativo, que prepara para vida em comum e para as relações sociais?!5. Você em algum momento do jogo, se encontrou confuso ou disperso? Em caso de resposta positiva,especifique o momento?!6. Esse jogo é dinâmico, divertido ou cansativo, chato? Por quê?!7. Na execução do jogo, você teve boa interação com sua equipe?!8. As regras do jogo foram claras para você?!( ) sim( ) não( ) mais ou menos!9. Classifique o jogo em:!((((!) ótimo) bom) regular) ruim

JOGO "QUÍMICA EM AÇÃO": PREPARAÇÃO DE UM MATERIAL DIDÁTICO PARA O ENSINO DE QUÍMICA. Rubeneide F. de Sá (IC) * 1, Carina S. de Morais Sá (IC) , e Marília G. de Menezes (PQ)1, José Euzébio Simões Neto (PQ) 1 e Maria Suely Costa da Câmara (PQ) . 1 Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), Universidade Federal Rural de Pernambuco, .