PLANTAS MEDICINAIS NO TRATAMENTO DE DIABETES MELLITUS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁSESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIAPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMALDisciplina: SEMINÁRIOS APLICADOSPLANTAS MEDICINAIS NO TRATAMENTO DEDIABETES MELLITUSLuciana Silva de CarvalhoOrientador: Prof. Dr. Adilson Donizeti DamascenoGOIÂNIA2011

iiLUCIANA SILVA DE CARVALHOPLANTAS MEDICINAIS NO TRATAMENTO DEDIABETES MELLITUSSeminárioapresentadojuntoàDisciplina de Seminários Aplicados doPrograma de Pós-Graduação Universidade Federal de Goiás.Nível: MestradoÁrea de Concentração:Patologia, Clínica e Cirurgia AnimalLinha de Pesquisa:Alterações clínicas, metabólicas etoxêmicas dos animais e meios auxiliares de diagnósticoOrientador:Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno - UFGComitê de Orientação:Prof.ª Dr.ª Rosângela de Oliveira Alves Carvalho – UFGProf.ª Dr.ª Veridiana Maria Brianezzi Dignani de Moura – UFGGOIÂNIA2011

iiiSUMÁRIO1 INTRODUÇÃO . 12 REVISÃO DE LITERATURA . 42.1 Diabetes Mellitus . 42.2 CLASSIFICAÇÃO . 62.2.1 Diabetes Mellitus tipo 1 . 72.2.2 Diabetes Mellitus tipo 2 . 82.2.3 Hiperglicemia. 92.2.4 Insulina . 102.2.5 Diagnóstico do Diabetes Mellitus . 112.2.6 Tratamento do Diabetes Mellitus . 112.3 Plantas Medicinais no Controle do Diabetes Mellitus . 132.4 Principais Plantas com Atividade Hipoglicemiante . 152.4.1 Panax ginseng. 152.4.2 Averrhoa carambola . 152.4.3 Passiflora edulis . 162.4.4 Camellia sinensis . 162.4.5 Cissus verticillata . 172.4.6 Momordica charantia . 172.4.7 Bauhinia forficata . 182.4.8 Phillanthus sp. . 182.4.9 Punica granatum . 192.4.10 Aloe vera. . 192.4.11 Allium sativum L . 203 CONSIDERAÇÕES FINAIS . 21REFERÊNCIAS . 22

1 INTRODUÇÃOO diabetes mellitus consiste em um grupo de doenças metabólicascaracterizadas por hiperglicemia resultante de defeitos na secreção de insulina,na ação de insulina, ou em ambas (ADA, 2007), que acomete cerca de 7,6% dapopulação brasileira entre 30 e 69 anos de idade. Cerca de 50% dos pacientesdesconhecem o diagnóstico e 24% dos pacientes reconhecidamenteportadores de diabetes mellitus não fazem qualquer tipo de tratamento(MALERBI & FRANCO, 1992).O diabetes mellitus tipo 1, dependente de insulina, é a forma maiscomum em cães, e se caracteriza por uma alta concentração basal de glicosesangüínea, incapaz de responder ao aumento da glicemia com a liberação deinsulina, semelhante ao diabetes mellitus tipo 1 em humanos (NICHOLS,1992). Por sua vez, o diabetes mellitus tipo 2, não insulino-dependente, é umadoença endócrina comum em gatos, representando 80% a 95% dos casos,cujos sinais clínicos mais freqüentes são polidipsia, poliúria, polifagia e perdade peso (FELDMAN, 2004; RAND & MARSHALL, 2005).Estima-se que em 2030, o diabetes mellitus acometará 366 milhõesde pessoas em todo o mundo (WILD et al., 2004). Pelo impacto social eeconômico que tem ocasionado, tanto em termos de produtividade quanto decustos, o diabetes mellitus vem sendo reconhecido, em vários países, comoproblema de saúde pública com reflexos sociais importantes. Sobressaem,dentre eles, as doenças oculares, renais e vasculares que tem sido apontadascomo causas freqüentes de invalidez e incapacitação para o trabalho (BRASIL,1990).Apesar dos avanços na medicina convencional, as pessoascontinuamrecorrendoàs plantas conhecidas popularmente por suaspropriedades medicinais. Antes da descoberta da insulina, as terapias paramelhora dos sintomas do diabetes mellitus eram realizadas com o uso dedietas alimentares e tratamentos com plantas medicinais (DAY, 1998). Aspropriedades benéficas encontradas em algumas plantas, tais como o controledo metabolismo de carboidratos, liberação da insulina, prevenção erestauração da integração e função das células pancreáticas, melhora da

2captação e utilização da glicose, torna essas plantas excelentes fontes depesquisa como modelo terapêutico (ROCHA et al., 2006).Para conviver com a doença, há necessidade de um controlerigoroso da glicemia, uma vez que ainda não existe cura (NELSON, 2004).Intervenções medicamentosas mostram efeitos positivos, porém o custoelevado e os efeitos colaterais de diversos fármacos têm despertado ointeresse de pesquisadores em conhecer os efeitos de substâncias naturais naredução dos níveis de glicose sangüínea, visto que muitos indivíduos escolhema suplementação dietética e terapias alternativas como as ervas medicinais(RATES, 2001).No Brasil, os custos totais estimados para o diabetes mellitus, noano de 2002, foram de cerca de 22 milhões de dólares, sendo o custo médioper capita de 872 dólares, o mais alto da América Latina. Gastos médios compessoas diabéticas alcançam o dobro, ou o triplo, do que com pessoas nãoafetadas pela doença (BARCELÓ et al., 2003). Estes dados bastariam parajustificar o estudo entre nossa flora de plantas medicinais que possam auxiliarno tratamento do diabetes mellitus, uma vez que os recursos financeirosenvolvidos no tratamento, recuperação e manutenção de pacientes portadoresdesta doença são altos para governo e sociedade (WHO, 2002). De acordocom a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 60 a 80% da populaçãonos países em desenvolvimento dependem essencialmente de plantas paracuidar de sua saúde devido à pobreza e à falta de acesso à medicinatradicional (MEDEIROS et al., 2004; PILLA et al., 2006).Em muitos países do mundo a prevalência do diabetes mellitus tipo2 tem se elevado bastante, sendo que nos países em desenvolvimento há umatendência de aumento da sua freqüência em todas as faixas etárias,especialmente nas mais jovens, cujo impacto negativo sobre a qualidade devida e a carga da doença aos sistemas de saúde é imensurável (KING &BROWNLEE,1996).No caso do diabetes mellitus, a procura por meios alternativos debaixo custo que auxiliem no controle da glicemia crônica prevenindo ouretardando o aparecimento de complicações da doença, com base nafarmacoetnobotânica, tem se tornado uma boa opção nos últimos anos, vistoque a maioria das plantas e nutracêuticos utilizados empiricamente

3demonstram ação em experimentações pré-clínica e clínica (NEGRI, 2005;RATES, 2001).Esta revisão bibliográfica tem como objetivo descrever algunsaspectos clínicos sobre diabetes, citar alguns exemplares botânicos usados nocontrole da doença e também descrever os principais aspectos e resultadosrelacionados aos ensaios farmacológicos com essas plantas que visam ocontrole da glicemia nos pacientes diabéticos, com a perspectiva de seremempregadas também em cães e gatos.Visa ainda, salientar a importância do conhecimento científico sobreessas plantas para evitar os possíveis efeitos tóxicos das mesmas e adequaros efeitos farmacológicos de maneira segura e eficiente para os pacientes.

42 REVISÃO DE LITERATURA2.1 Diabetes MellitusO diabetes mellitus (DM) é considerado a doença mais antiga domundo (SILVA, 2006), sendo que seus sintomas foram descritos há cerca de3500 anos, no Papiro de Ebers no antigo Egito (MARLES & FARNSWORTH,1995).Em 1670, o médico inglês Thomas Willis descobriu, provando a urinade indivíduos que apresentavam os mesmo sintomas, que ela era “muitíssimodoce, cheia de açúcar”. Em 1815, o químico Michael Chevreul demonstrou queo açúcar dos diabéticos era a glicose e os médicos passaram a provar a urinadas pessoas sob suspeita de diabetes. Desde essa época, a doença passou achamar-se “diabetes açucarada” ou diabetes mellitus. A palavra “mellitus”, deorigem latina, significa “mel ou adocicado” (OLIVEIRA, 2002; KING & RUBIN,2003). Em 1889, Joseph Von Mering e Oscar Minkowski descobriram que opâncreas produz uma substância, capaz de controlar o açúcar no sangue eevitar os sintomas do DM. Essa substância, anos depois, foi descrita comoinsulina (OLIVEIRA, 2002).O DM é considerado um problema de saúde mundial por ser deprevalência elevada e incidência crescente (WILD et al., 2004; SILVA & MURA,2007). No ranking dos 10 países mais atingidos pelo DM, o Brasil ocupa a 6ºposição, com 11,3 milhões de diabéticos (KING et al., 1998; WILD et al., 2004),sendo que as cidades das regiões Sul e Sudeste, consideradas de maiordesenvolvimento econômico do país, apresentam maiores prevalências daenfermidade (SARTORELLI E FRANCO, 2003).Além disso, a doença está relacionada a um elevado número demorbidades e mortalidades precoces em decorrência das complicações agudase crônicas que acarretam e que pioram a qualidade e a expectativa de vida deseus portadores, podendo levar a incapacitações, o que resulta em altos custosfinanceiros e sociais (SILVA & MURA, 2007; NETTO, 2008).No Brasil a taxa de mortalidade por DM é 41,8 óbitos por 100 milhabitantes, sendo que a doença está entre as dez principais causas de morteem países ocidentais (SILVA et al., 2006), e se manifesta mais freqüentemente

5em pessoas entre 45 e 64 anos de idade em países subdesenvolvidos e acimade 65 anos em países desenvolvidos (FERREIRA et al., 2005), acometendoindivíduos em todos os estágios de desenvolvimento econômico e social (ADA,2006). Nos últimos anos, tem-se observado um aumento na prevalência dediabetes mellitus tipo 2 entre jovens, sendo que a presença da resistênciainsulínica em indivíduos cada vez mais jovens está relacionada com o aumentoda obesidade infantil (GABBAY et al., 2003; PANAROTTO et al., 2005). salteraçõesfisiopatológicas como menor extração de insulina pelo fígado, aumento daprodução hepática de glicose e diminuição da captação de glicose pelo tecidomuscular (CORRÊA et al., 2003).No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) vem atendendo umnúmero crescente de pacientes com DM. Em 1998, foram realizados 190 milatendimentos e em 2004 esse número subiu para 5,86 milhões deatendimentos por ano (FERREIRA, 2008).No que diz respeito aos cães e gatos, nos Estados Unidos, um emcada 152 animais desenvolvem a doença ou algum distúrbio relacionado aometabolismo da glicose (CATCHPOLE et al., 2005), sendo que diversos fatorespredispõem à DM, entre eles a obesidade, a senilidade e genética em algumasraças como Poodle Miniatura, Scottish Terrier, Samoyeda, King CharlesSpaniel e Rottweiler (COUTO & NELSON, 2001).A maioria dos cães que apresenta qualquer tipo de DM tem entrequatro e 14 anos de idade, com pico de prevalência entre sete a nove anos deidade. Em cães com mais de oito anos de idade, o aparecimento do DM émuito mais freqüente do que naqueles com idade inferior a oito anos de idade(COELI et al., 2003), sendo que a maior incidência ocorre em fêmeas com maisde sete anos de idade (GUPTILL et al., 2003).Outro fator predisponente no cão é a destruição das célulasdopâncreas, o que pode ser decorrente de uma pancreatite aguda ou tóxicosoudestruiçãoimunomediada (NELSON & FELDMAN, 1998; NGUYEN et al., desenvolvimento do DM do tipo 2, ocorrendo principalmente em gatos e emhumanos (FORD et al., 1993), sendo que, provavelmente, o aumento no

6número de animais obesos está relacionado com o aumento na incidência dadiabetes em animais (HOENIG, 2002). A obesidade interfere com ahomeostasia da glicose e da insulina e o grau de insulinemia está altamentecorrelacionado com o grau de obesidade em cães diabéticos e não-diabéticos.Desta forma, torna-se importante o controle do peso no tratamento do diabetesmellitus em cães (MARMOR et al., 2000).Outro fator são os hormônios diabetogênicos que devido à açãoantagonista à insulina, podem levar a exaustão temporária das célulasdasilhotas do pâncreas. Os glicocorticóides, adrenalina, glucagon e o hormônio docrescimento são considerados hormônios diabetogênicos (EIGENMANN et al.,1983). Quando a concentração plasmática de um destes hormônios estiveraumentada devido a secreção excessiva ou administração exógena, há umantagonismo à insulina nos tecidos periféricos e/ ou um favorecimento àgliconeogênese e glicogenólise hepática, hiperinsulinemia e tolerânciaprejudicada a glicose (NELSON,1994).O estrógeno e a progesterona reduzem a sensibilidade dos órgãosalvo para a ação da insulina

O diabetes mellitus consiste em um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia resultante de defeitos na secreção de insulina, na ação de insulina, ou em ambas (ADA, 2007), que acomete cerca de 7,6% da