Boas Práticas Em Oftalmologia - Elementos Clínicos De Avaliação E .

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TítuloBOAS PRÁTICAS EM OFTALMOLOGIA 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoAutorDirecção de Serviços de Cuidados de Saúde/Comissão de Coordenação do Programa Nacional para a Saúde da VisãoEditorDirecção‐Geral da SaúdeCoordenação CientíficaAntónio Castanheira DinisCoordenação TécnicaAlexandre DinizCarlos PipaOrientações TécnicasConceição LoboFernando Falcão dos ReisFlorindo Esteves EsperancinhaJosé Cunha VazJosé Luís DóriaManuel Monteiro GrilloSusana TeixeiraTextos FinaisAna Berta CerdeiraCarlos CanhotaJosé Luís DóriaManuel OliveiraTrabalho das ImagensAna Berta CerdeiraJosé Luís DóriaManuel OliveiraMaria Abreu – elaboraçãoColaboraçãoLuísa PratesLuísa Coutinho SantosMaria Alice BaiãoVasco CondeComposição Gráfica e Programação MultimédiaMaria AbreuCapaLuciano ChastreApoios e LogísticaSaúde XXI – Programa Operacional da SaúdeEU – Fundos EstruturaisInstituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (IOGP)Centro de Estudos das Ciências da Visão (CECV‐FML)Lisboa – 2008ISBN: 978‐972‐675‐189‐2Suporte: CD‐ROMPrefixo do Editor: 675Comissão de CoordenaçãoPrograma Nacional para a Saúde da VisãoAntónio Castanheira Dinis – PresidenteAdriano AguilarAlexandre DinizAna Berta CerdeiraCarlos CanhotaCarlos PipaConceição LoboFernando Falcão dos ReisFlorindo Esteves EsperancinhaFrancisco Nunes da SilvaIsabel LaresJacinto Brito LançaJosé Cunha VazJosé Luís DóriaLuísa PratesManuel Monteiro GrilloManuel OliveiraManuela LucasMaria Alice PortugalPaulo TorresVasco CondeVictor MendonçaDespacho nº 3981/2005 de 23 de Fevereiro eDespacho nº 8218/2008 de 19 de Março

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoÍNDICEIntrodução. IIIConceitos Práticos .IVCronograma – “Idades Chave” .VIBoas Práticas – Elementos de Avaliação e Referenciação . 11. Criança. 12. Avaliação Oftalmológica do Recém‐Nascido de Alto Risco . 33. Detecção Precoce das Alterações da Visão na Criança – Recomendações. 64. Principais Recomendações na Retinopatia Diabética (RD). 155. Principais Recomendações na Catarata no Adulto. 216. Principais Recomendações no Glaucoma . 257. Principais Recomendações na Degenerescência MacularRelacionada com a Idade (DMI) . 318. “Olho Vermelho” . 369. Olho Seco . 4010. Perda Súbita de Visão . 4211. Traumatismo Ocular . 4412. Noções de Anatomia e Fisiologia Ocular (esquemas). 4613. Óptica e Refracção Ocular. 51Documentos de Informação Clínica para Referenciação. 59Glossário. 69Índice de Figuras. 75

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoINTRODUÇÃOO sentido da visão possui um elevado significado social, representando um meio decomunicação fundamental para a relação entre as pessoas e para a actividadeprofissional.(In: Programa Nacional para a Saúde da Visão)BOAS PRÁTICAS EM OFTALMOLOGIA 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e Referenciação é ummanual que aborda conceitos de Saúde da Visão destinados, essencialmente, aos profissionaisdos Cuidados de Saúde Primários. Contém informações genéricas orientadoras para aabordagem ao Utente/Doente no sentido de um diagnóstico precoce ou sua suspeita e,também, informações úteis para o seu aconselhamento. Em suma, é uma base para areferenciação, incluindo “Documentos de Informação Clínica para Referenciação” para osdiferentes grupos etários.O manual é o resultado de um conjunto de trabalhos, individuais e de grupo, que foramsolicitados pela Comissão Coordenadora do Programa Nacional para a Saúde da Visão(Despacho nº 3981/2005 de 23/Fevereiro e Despacho nº 8218/2008 de 19 de Março) que orientou aconclusão desta versão 2008.É um trabalho inacabado devendo ser revisto periodicamente (aberto a sugestões através doe‐mail boaspraticas.oftalmologia@dgs.pt), mas representa, sem dúvida, um ponto de partidabenéfico para a saúde da visão dos cidadãos. Na verdade, é um documento de trabalho paratodos os profissionais de saúde!Está estruturado em vários níveis de conhecimento das cinco principais estratégias da Saúdeda Visão abordadas pelo Programa Nacional para a Saúde da Visão 2005‐2010: CRIANÇA,GLAUCOMA, RETINOPATIA DIABÉTICA, CATARATA e DEGENERESCÊNCIA MACULAR ligada àIDADE (DMI). Incluíram‐se, ainda, entidades que pela sua frequência e significado urgentemerecem destaque: “Olho Vermelho”, “Olho Seco”, “Perda Súbita de Visão” e “TraumatismoOcular”.Umas breves noções de generalidades sobre o globo ocular, óptica e refracção são, também,apresentadas como informação complementar.Este CD tem a particularidade de ser interactivo, permitindo um fácil navegar pelas diferentesentidades nosológicas, oferecendo, assim, através de botões um esclarecimento imediato eprático sobre terminologia, técnicas e metodologia de avaliação.Para terminar, qualquer texto ou documento pode ser impresso, incluindo elementos doProntuário Terapêutico – Capítulo 15 – Medicamentos Usados em Afecções Oculares, atravésda área acedida pelo botão “Imprimir”.III

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoCONCEITOS PRÁTICOSA melhor forma de identificar a doença ocular/visual e de prevenir a cegueira é através daDETECÇÃO PRECOCE/DIAGNÓSTICO PRECOCE. Todos devem ser observados por Oftalmologista de FORMA SISTEMÁTICA, deacordo com a idade; Todos devem ser observados por Oftalmologista de FORMA PERIÓDICA conformea doença existente; Todos devem submeter‐se a RASTREIOS para as doenças que podem levar àcegueira.A CRIANÇA MERECE CUIDADO PARTICULAR. É desde o nascimento até à idade escolar que seprevinem, evitam e tratam muitas doenças que levam à visão deficiente e, até, à cegueira.COMO EXISTEM DOIS OLHOS, NUNCA ESQUECER QUE UM PODE VER MAL!A AMBLIOPIA NA CRIANÇA É UM “OLHO PREGUIÇOSO” QUE DEVE SER TRATADO PRECOCEMENTEA AMBLIOPIA É IRREVERSÍVEL A PARTIR DOS 8 ANOS DE IDADEDe forma sistemática, e de acordo com as “IDADES CHAVE”, devem ser realizadas váriasavaliações oftalmológicas.FACTORES DE RISCO obrigam a RASTREIO e avaliações periódicas.Toda a doença crónica/prolongada exige MONITORIZAÇÃO.PERGUNTAS MAIS FREQUENTESSERÁ NECESSÁRIA UMA CONSULTA ANUAL DE OFTALMOLOGIA?Não. Somente nos casos em que o médico oftalmologista aconselhar devido a umasituação clínica específica.DIAGNÓSTICO PRECOCE: O QUE É E NO QUE CONSISTE?Resulta de uma observação por Oftalmologista que, após terem sido detectados osprimeiros sinais da doença, avalia de imediato a sua fase de evolução bem como anecessidade (ou não) de se iniciar o tratamento.O DIAGNÓSTICO PRECOCE É SINÓNIMO DE CEGUEIRA?Não. É, somente, a melhor forma da pessoa ficar a saber qual o risco que corre depoder vir a cegar se não cumprir as orientações do Oftalmologista.QUE AVALIAÇÕES OFTALMOLÓGICAS DEVEM EXISTIR?Atender e cumprir as orientações contidas nos seguintes períodos, que integram as“idades chave”: 0 ‐ 10 anos: de acordo com o cronograma da criança; 10 ‐ 45 anos: de acordo com factores de risco ou se ocorrer baixa da visão,aparecimento de estrabismo, traumatismo ocular, etc.; dos 45 aos 65 anos: aconselha‐se uma vigilância oftalmológica de 4 em 4 anos; depois dos 65 anos: aconselha‐se uma vigilância oftalmológica de 2 em 2 anos.IV

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoQUEM ESTÁ SUJEITO A MAIOR RISCO DE DOENÇA OCULAR?Os DIABÉTICOS; os que têm familiar com GLAUCOMA; os que têm MAIS DE 65 ANOS deidade.Na criança, os PREMATUROS.E A CRIANÇA? QUE CUIDADOS VISUAIS SE DEVERÁ TER COM A CRIANÇA?Deverá obedecer a uma avaliação sistemática, de acordo com o cronogramaapresentado no Capítulo “Criança”.É PRECISO MUDAR DE ÓCULOS TODOS OS ANOS?Não. A refracção ocular é estável na generalidade das pessoas, na idade adulta. Háexcepções em que o oftalmologista aconselhará. Noutros casos é a própria pessoa quedetecta que está a ver menos bem. Neste caso deverá consultar um oftalmologista.A criança deve seguir sempre o conselho médico.V

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoCRONOGRAMA – “IDADES CHAVE”Atender e cumprir as orientações contidas nos seguintes períodos, que integram as“idades chave”: 0 ‐ 10 anos: de acordo com o cronograma da criança; 10 ‐ 45 anos: de acordo com factores de risco ou se ocorrer baixa da visão,aparecimento de estrabismo, traumatismo ocular, etc.; dos 45 aos 65 anos: aconselha‐se uma vigilância oftalmológica de 4 em 4 anos; depois dos 65 anos: aconselha‐se uma vigilância oftalmológica de 2 em 2 anos.VI

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoBOAS PRÁTICAS – ELEMENTOS DE AVALIAÇÃO E REFERENCIAÇÃO1. CRIANÇAAs avaliações oftalmológicas da criança em“IDADES CHAVE” do seu crescimento são umimperativo, devendo estar devidamente previstosnum Programa Nacional.CRONOGRAMA DE AVALIAÇÃO DA CRIANÇARECÉM‐NASCIDOUma boa visão é essencial para o global desenvolvimento da criança. Há que estar atento,desde a nascença!Grupos de risco: Prematuridade; Complicações sistémicasmalformativos; História familiar com risco oftalmológicoperinatais;SindromasÀ nascença a acuidade visual é ainda muito baixa, mas aumenta rápida e progressivamente nasprimeiras semanas de vida.A capacidade de perseguição de um estímulo visual vai‐se igualmente desenvolvendo,relacionada com a fixação, a acuidade visual, a motilidade ocular e o desenvolvimento doCriança1

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e Referenciaçãocampo visual. Os primeiros 3 meses são particularmente importantes no desenvolvimento dacriança e das suas funções visuais.CRIANÇA – 2 MESES / 10 ANOSPelos 6 meses deverá estar estabilizada a coordenação binocular.Atenção à existência de uma “pupila branca” (leucocória) que pode denunciar um tumor daretina (especial atenção até aos 3 anos).Estar atento aos olhos grandes que podem significar glaucomaou uma miopia insuspeitada. Quem nunca viu bem não sabe oque é uma boa visão!Figura 1.1: Leucocória OEÉ importante que, no início da escolaridade, a criança reúna as(“pupila branca”)melhores condições visuais e esteja já adaptada à correcçãoóptica, se necessária. Aos 5 anos de idade é de esperar uma acuidade visual de 10/10, emambos os olhos.Depois dos 6 anos, uma grande parte dos problemas sensoriais ligados ao desenvolvimento davisão são de tratamento mais difícil e, frequentemente, não se consegue a recuperação total.Tabela 1.1: Esquema da Avaliação da Saúde da Visão da CriançaIDADES2 meses6 meses2 anos5 e 10 anosANAMNESEHistória familiar e hereditáriaPreencher na 1ª observaçãoHistória da gravidez e partoPreencher na 1ª observaçãoHistória pessoal e xame Ocular ExternoSimSimSimSimMeios Transparentese reflexo do fundo ocularSimSimSimSimReflexos fotomotoresSimSimSimSimFixação e perseguição—SimSim—Acuidade visual——SimSimVisão cromática (Ishiara)———SimCampos visuais———SimEXAME OBJECTIVOCapacidade visualMovimentos Oculares, Visão Binocular e Equilíbrio OculomotorT. Hirschberg—SimSimSimPosições do olhar—SimSimSimCover test—SimSimSimEstereopsia———SimCriança2

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e Referenciação2. AVALIAÇÃO OFTALMOLÓGICA DO RECÉM‐NASCIDO DE ALTO RISCOOs riscos de morbilidade ocular nos recém‐nascidos (RN) podem ser agrupados segundo trêsníveis: factores de risco, história familiar, sinais e sintomas oftalmológicos. Devem serpesquisados e ponderados para uma referenciação precoce do RN e observação emOftalmologia (Tabela 2.1).Tabela 2.1– Indicadores de risco do RN para referenciação à OftalmologiaNíveis de RiscoExemplosI. Factores de risco (doençassistémicas ou condições demorbilidade do RN) Prematuridade de baixo peso:Retinopatia da prematuridade (RP) Complicações sistémicas perinatais:Sépsis, Infecção TORCH, Infecção HIV, Doenças metabólicas,Doenças neurológicas, Traumatismos de parto Sindromas malformativosII. História Familiar III. Sinais e sintomasoftalmológicos Nistagmo Malformação Sinais e sintomas de Glaucoma (assimetria tamanho doglobo ocular, fotofobia, lacrimejo) LeucocóriaRetinoblastomaGlaucoma congénitoCatarata congénitaDistrofias retinianasFigura 2.1: Reflexo vermelho OD (normal)Leucocória OE (“pupila branca”)2.1 ‐ FACTORES DE RISCO (DOENÇAS SISTÉMICAS OU CONDIÇÕES DE MORBILIDADEDO RN)A. Retinopatia da PrematuridadeA retinopatia da prematuridade (RP) é uma doença vasoproliferativa da retina que podeafectar o grupo de recém‐nascidos prematuros de muito baixo peso à nascença.Esta doença pode ser silenciosa, progredindo para a cegueira, sem apresentar sinais exterioresda sua presença. A leucocória pode ser visível apenas tardiamente, em fase já irreversível.É portanto obrigatório o rastreio de todos os recém‐nascidos prematuros, com risco dedesenvolverem RP, cujos critérios são:Avaliação Oftalmológica do Recém-Nascido de Alto Risco3

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e Referenciação Peso à nascença inferior ou igual a 1500 g Idade gestacional (IG) inferior ou igual às 32 semanas Por orientação dos neonatologistasNa existência de algum destes critérios deve ser cumprido, em Oftalmologia, o Protocolo deAvaliação da RP (ICROP 1 e ETROP 2 ). O encaminhamento para Oftalmologia deverá ser feitologo na primeira observação da criança: pelo menos na 30ª semana de Idade Pós Menstrual(IPM) ou entre o 30º e o 42º dia de vida (idade cronológica). Assim, um recém‐nascidoprematuro, com idade gestacional inferior às 25 semanas, será observado pela primeira vez na30ª semana.B. Complicações sistémicas perinataisOs RN com doenças sistémicas que possam ter envolvimento ocular, nomeadamente: sépsisprecoces, infecções suspeitas do grupo TORCH (Toxoplasmose, Sífilis, Rubéola,Citomegalovirus, Herpes Simples), infecção HIV, doenças metabólicas e doenças neurológicas,bem como os RN sujeitos a graves traumatismos de parto, deverão ser observados poroftalmologista.C. Sindromas MalformativosA colaboração inter‐especialidades é importante para o diagnóstico completo da patologia nacriança, sobretudo se existirem sindromas polimalformativos. A observação oftalmológicacolabora no diagnóstico completo.2.2 ‐ HISTÓRIA FAMILIARRecém‐nascidos com história familiar de retinoblastoma, de glaucoma congénito, de cataratacongénita e de distrofias retinianas, deverão ser observados por oftalmologista, nos primeiros2 meses de vida.A. RetinoblastomaNa ausência de história familiar de retinoblastoma a doença é geralmente diagnosticada peloaparecimento de leucocória, que por vezes é detectada nas fotografias (Figura 3.1).Outro sinal pode ser o aparecimento de um estrabismo, em geral unilateral.A presença de olho vermelho por glaucoma; de celulite orbitária por necrose tumoral; dehifema ou hipopion, são ainda outros sinais possíveis da manifestação do tumor.Uma história familiar de retinoblastoma impõe o rastreio da criança com o fim de detectar adoença ainda em fase de pequenos tumores, com mais fácil controlo e antes do aparecimentode outros sinais e sintomas.O aconselhamento genético é fundamental nesta patologia. Doentes e familiares deverão serestudados e enviados a uma consulta de genética.1International Classification for ROP2Early Treatment for ROPAvaliação Oftalmológica do Recém-Nascido de Alto Risco4

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoAté muito recentemente o tratamento incluía quase só a enucleação e radiação, mas adescoberta de que a radiação pode induzir o aparecimento de novos tumores fatais (tumoressecundários não oculares como sarcomas e osteo‐sarcomas), impôs a modificação dotratamento, utilizando quimioterapia e terapia focal.Se controlado localmente o retinoblastoma permite boas hipóteses de sobrevivência, mas asua disseminação, em particular por extensão directa para o nervo óptico ou por disseminaçãopara a órbita, via vasos ciliares ou nervos, pode acontecer e é extremamente perigosa. Ametastização também pode ocorrer por via de drenagem do humor aquoso, particularmentese está presente o glaucoma. A medula óssea e o fígado são os órgãos mais atingidos pormetástases.B. Glaucoma CongénitoO Glaucoma Congénito (GC), sendo a forma mais rara de glaucoma, está sempre associado ahipertensão intra‐ocular e manifesta‐se desde o nascimento ou nos primeiros anos de vida.No GC, a criança apresenta olhos grandes, lacrimejo intenso, com córneas grandes(megalocórneas) e turvas. Sendo devido a uma alteração congénita do ângulo iridocorneanopouco lugar há para a prevenção e o seu tratamento é cirúrgico.C. Catarata CongénitaEstão presentes ao nascer mas podem manter‐se sem dar sinais até que a visão diminua ouhaja o aparecimento de um reflexo branco na pupila (leucocória). A catarata congénita, talcomo outras patologias da criança (Retinoblastoma, Persistência de Vítreo Primário, Doençade Coat), enquadra‐se no que habitualmente se denomina Leucocória (pupila branca), para aqual é necessário um diagnóstico diferencial.No sentido de evitar a ambliopia de privação, um diagnóstico e tratamento atempado sãonecessários para cataratas visualmente significantes em neonatais, bebés ou crianças quecomeçam a andar. Em cataratas congénitas unilaterais a intervenção deve ser realizada antesdo “período de janela”, que é de 6 semanas de vida, para minimizar os efeitos de privação nodesenvolvimento do sistema visual e poder conseguir‐se uma recuperação visual binocular.D. Distrofias RetinianasDiversas distrofias retinianas podem ser enquadradas como factores de risco aconselhando aorientação prioritária da criança para uma consulta de oftalmologia.2.3 ‐ SINAIS OU SINTOMAS OFTALMOLÓGICOSA presença de Nistagmo (tremor ocular), de leucocória, de sinais ou sintomas de glaucomacongénito, implica uma observação prioritária por oftalmologista. Nalguns casos (a cataratacongénita que pode causar ambliopia), o tratamento atempado poderá resultar num bomdesenvolvimento da criança, noutros, pode mesmo significar a conservação da vida(retinoblastoma).Todos os recém‐nascidos com leucocória devem ser investigados com carácter urgente. Devemser observados antes da alta da maternidade pelo pediatra e de imediato referenciados para aconsulta de oftalmologia, com prioridade absoluta.A detecção pelo médico de família de anomalias oculares que configurem a existência deleucocórias terá obrigatoriamente prioridade absoluta na observação pelo oftalmologistahospitalar, de preferência com experiência pediátrica.Avaliação Oftalmológica do Recém-Nascido de Alto Risco5

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e Referenciação3. DETECÇÃO PRECOCE DAS ALTERAÇÕES DA VISÃO NA CRIANÇA – RECOMENDAÇÕES3.1 ‐ INTRODUÇÃONa espécie humana a visão é, de entre todos os órgãos dos sentidos, o mais importante meiode comunicação com o mundo exterior. De toda a informação que recolhemos, mais de 70%relaciona‐se com a visão. A visão é, por isso, essencial para o desenvolvimento harmonioso dacriança.À nascença o sistema visual não se encontra completamente desenvolvido, a acuidade visual éainda muito baixa (equivalente a cerca de 1/10), mas aumenta rapidamente nas primeirassemanas de vida. Os primeiros 3 meses de vida são particularmente importantes para oestabelecimento da fixação e o desenvolvimento da acuidade visual da criança. A capacidadede perseguição dum estímulo visual é igualmente importante, relacionando‐se com a fixação, aacuidade visual, a motilidade ocular e o desenvolvimento do campo visual. Aos quatro anos éde esperar uma acuidade visual aproximadamente de 7/10, e de 10/10 após os 5 anos deidade.Na idade escolar, depois dos 6 anos, uma grande parte dos problemas sensoriais ligados aodesenvolvimento da visão é mais dificilmente tratável e frequentemente não se consegue arecuperação total.É muito importante que as imagens em ambos os olhos sejam nítidas, para que a informaçãoque chega ao cérebro (sistema nervoso central) seja correcta e simétrica. A existência deanomalias da refracção, de opacidades nos meios transparentes, de estrabismos ou de outrasdoenças que afectem a visão podem lesar definitivamente o sistema visual.Os dados estatísticos apontam para a existência de 3 a 4% de crianças com estrabismo. Cercade 20% das crianças têm um defeito da refracção. Estima‐se uma prevalência de 1 a 2,5 % deambliopias na criança, muitas delas devidas a um defeito da refracção ou a estrabismo, nãocorrigidos atempadamente 3 .As avaliações oftalmológicas da criança em “IDADES CHAVE” do seu crescimento são umimperativo, que apela à colaboração entre a medicina geral e familiar, a pediatria e aoftalmologia, devendo estar devidamente previstos num Programa Nacional.Não é consensual a idade óptima para a realização das avaliações oftalmológicas na criança,pois muitos dos testes são subjectivos e estão na dependência da sua colaboração. Há contudoidades limite para que as diversas avaliações já tenham sido realizadas e é geralmenteaconselhado que à entrada da escola a criança reúna as melhores condições possíveis deutilização das suas funções visuais, o que implica um exame global da visão devidamenteposicionado e inserido no exame global de saúde, para dar tempo a corrigir as alterações quesejam detectadas.Não se podem também esquecer os grupos de risco (como uma história familiar de doençaoftalmológica grave, a prematuridade, os atrasos de desenvolvimento, opacidades nos meiostransparentes do globo ocular, estrabismos e ametropias elevadas nos familiares próximos),que necessitam de uma maior vigilância. (Ver pág.3)3Fonte: “Rede de Referenciação Hospitalar de Oftalmologia” – Doc. Trabalho, DGS, Lisboa 2006Detecção Precoce das Alterações da Visão na Criança – Recomendações6

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e Referenciação3.2 ‐ METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO SISTEMÁTICA DA VISÃO DA CRIANÇAConciliando o Programa‐Tipo de Actuação em Saúde Infantil e Juvenil e as estratégiaspropostas no Programa Nacional para a Saúde da Visão, estabelecem‐se assim as normas parauma avaliação da visão da criança, excluindo‐se os grupos de risco acima mencionados.Não são normas estáticas podendo verificar‐se actualização das mesmas sempre quenecessário, e assumindo permanentemente um carácter oportunístico nas diferentes ocasiõesde vigilância de saúde da criança.As diversas avaliações, conforme as orientações do Programa Nacional para a Saúde da Visão,deverão constituir uma rotina na vigilância da saúde da criança. Estas avaliaçõescomplementam e completam outras observações programadas para as crianças incluídas nosgrupos de risco.É desejável que esta avaliação inclua o maior número possível de crianças, tendo por metaideal a avaliação sistemática de todas as crianças antes da idade escolar.Embora as avaliações e rastreios da visão sejam preferencialmente do âmbito da oftalmologia:médicos oftalmologistas e ortoptistas, também os outros profissionais da saúde deverãocolaborar, nomeadamente: os pediatras, médicos de Medicina Geral e Familiar e enfermeiros.No âmbito das suas atribuições, estes deverão estar familiarizados com os testes e técnicasaplicáveis.Alguns casos avaliados podem necessitar de uma observação mais precoce e, genericamente,é desejável que a consulta em oftalmologia se realize num prazo inferior a 6 meses após aavaliação.Deste modo, ao atingir a idade escolar, a criança reunirá as melhores condições possíveis dassuas funções visuais.A. Avaliação até aos 2 meses – Doc. de Referenciação I1) AnamneseDeve ser pesquisada a história familiar e hereditária com possíveis implicaçõesna visão da criança; A história da gravidez e do parto, com a idade gestacional, opeso à nascença, eventuais traumatismos no parto, a necessidade deoxigenoterapia; A história clínica da criança, o seu desenvolvimento motor,configuração facial e posicionamento da cabeça, eventuais sinais e sintomasoculares / eucomportamento diário perante a luz.2) Interrogatório dirigidoPerguntando aos pais se pensam que a criança vê bem ou se estão preocupadosem relação aos olhos das crianças.3) Exame objectivoDeverá ter em conta:a) Pálpebras e exame ocular externoComo generalidades de orientação para o exame ocular externo, devem seranalisadas as pálpebras e o pestanejo, a localização e orientação das pestanas,os fundos de saco conjuntivais e os pontos lacrimais, que devem estarDetecção Precoce das Alterações da Visão na Criança – Recomendações7

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e Referenciaçãopatentes; A implantação dos globos oculares na órbita e os seus movimentos,a coloração da esclerótica, os vasos conjuntivais, a transparência e o diâmetrodas córneas (normal até 10 mm), a profundidade da câmara anterior, a íris e aárea pupilar, que deve mostrar pupilas com diâmetros semelhantes eregularmente redondas.Conjuntivite Neonatal (Perinatal)É uma situação grave. Exige referenciação urgente, tratamentosistémico e internamento hospitalar.Etiologias graves (perfuração da córnea) e períodos de incubação: Neisseria gonorrhoeae (24‐48 h) Chlamydia trachomatis (5‐14 dias) Herpes simplex (primeiras 2 semanas) Bacteriana – Pseudomonas sp. (depois do 5º dia)Outras causas: Química (Credé) – em algumas horasA história de doença sexualmente transmissível (DST) da mãe podeorientar o diagnóstico provável.Obstrução congénita do canal lacrimo‐nasalSinais: epífora, conjuntivites de repetição.Causa/mecanismo: atraso na canalização das vias lacrimais. Pode serunilateral.Tratamento: Perante suspeita nunca prescrever pomada. Massagemlocal e colírio líquido.Aguardar os 4‐6 meses de idade para sondagem e desobstrução docanal lacrimo‐nasal.b) Meios transparentes e observação do reflexo do fundo ocularFigura 3.1: Reflexo Vermelho OD (normal);Leucocória OE (“pupila branca”);Fazendo‐se incidir a luz do oftalmoscópio a 50‐60cm do olho (exige técnica apurada) o orifíciopupilar deve transmitir um reflexo avermelhado dofundo ocular, idêntico ao verificado em muitasfotografias, que exclui a presença de opacidades dacórnea, do cristalino e do vítreo. Se o reflexo foresbranquiçado define‐se uma leucocória (“pupilabranca”).c) Avaliação da capacidade visualNo recém‐nascido uma avaliação grosseira da capacidade visual pode ser feitapela observação dos reflexos fotomotores, directo e consensual.ODE – NormalOD ‐ Defeito Aferente / OE ‐ NormalOD ‐ Defeito Eferente / OE ‐ NormalFigura 3.2: Reflexos Fotomotores ‐ Directo e ConsensualDetecção Precoce das Alterações da Visão na Criança – Recomendações8

Boas Práticas em Oftalmologia 2008 – Elementos Clínicos de Avaliação e ReferenciaçãoDesde as 6 semanas deverá, igualmente, seguir por momentos um objectopróximo, colocado na linha média (reflexos de fixação e perseguição). Omovimento com perseguição do estímulo visual adquire‐se primeiro nahorizontal e só depois na vertical, pelas 4 a 8 semanas.B. Avaliação aos 6 meses – Doc. de Referenciação I(preenchido em cada nível etário)1) AnamneseConforme descrito na avaliação dos 2 meses:Deve ser pesquisada a história familiar e hereditária com possíveis implicações navisão da criança; A história da gravidez e do parto, com a idade gestacional, o peso ànascença, eventuais traumatismos no parto, a necessidade de oxigenoterapia; A históriaclínica da criança, o seu desenvolvimento motor, configuração facial e posicionamentoda cabeça, eventuais sinais e sintomas oculares / oftalmológicos, intercorrentes;Informação sobre o seu comportamento diário perante a luz.Obstrução congénita do canal lacrimo-nasalSinais: epífora, conjuntivites de repetição.Causa/mecanismo: atraso na canalização das vias lacrimais. Pode serunilateral.Tratamento: Perante suspeita nunca prescrever pomada. Massagem local ecolírio líquido até ser feita sondagem e desobstrução do canal lacrimo-nasal.2) Interrogatório dirigidoConforme descrito na avaliação dos 2 meses:Perguntando aos pais se pensam que a criança vê bem ou se estão preocupados emrelação aos olhos das crianças.3) Exame objectivoDeverá ter em conta:a) Pálpebras e exame ocular externoConforme descrito na avaliação dos 2 meses:Como generalidades de orientação para o exame ocular externo, devem ser analisadasas pálpebras e o pestanejo, a localização e orientação das pestanas, os fundos de sacoconjuntivais e os pontos lacrimais, que devem estar patentes; A implantação dos globosoculares na órbita e os s

2008 - Elementos Clínicos de Avaliação e Referenciação é um manual que aborda conceitos de Saúde da Visão destinados, essencialmente, aos profissionais