A Interdisciplinaridade E A Especificidade Linguística .

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A INTERDISCIPLINARIDADEE A ESPECIFICIDADELINGUÍSTICA:TEORIAS E PRÁTICASSÉRIETRILHAS LINGUÍSTICASn 26 – 2014

Faculdade de Ciências e Letras, UNESP – Univ Estadual Paulista,Campus AraraquaraReitor: Julio Cezar DuriganVice-reitora: Marilza Vieira Cunha RudgeDiretor: Arnaldo CortinaVice-diretor: Cláudio César de PaivaPrograma de Pós-Graduação em Linguística e Língua PortuguesaCoordenadora: Rosane de Andrade BerlinckSÉRIE TRILHAS LINGUÍSTICAS Nº 26Comitê EditorialCibele Krause-Lemke (UNICENTRO)Erotilde Goreti Pezatti (UNESP-IBILCE)Frantomé Pacheco (UFAM)Gladis Massini-Cagliari (UNESP-FCLAr)Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante (UFPB)Marize Mattos Dall-Aglio Hattnher (UNESP-IBILCE)Roberto Gomes Camacho (UNESP-IBILCE)Comissão Editorial da Pós-graduação em Linguística e Língua PortuguesaAlessandra Del RéAnise de Abreu G. D'Orange FerreiraArnaldo CortinaBento Carlos Dias da SilvaCristina Martins FargettiLuiz Carlos CagliariRenata Maria Facuri Coelho MarchezanRosane de Andrade BerlinckDiagramação: Eron Pedroso JanuskeivictzNormalização: Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras

A INTERDISCIPLINARIDADEE A ESPECIFICIDADELINGUÍSTICA:TEORIAS E PRÁTICASLetícia Marcondes RezendeOdair Luiz NadinMarina Célia MendonçaClaudia ZavagliaAnna Flora Brunelli(Org.)

Copyright 2014 by FCL-UNESP Laboratório EditorialDireitos de publicação reservados a:Laboratório Editorial da FCLRod. Araraquara-Jaú, km 114800-901 – Araraquara – SPTel.: (16) 3334-6275E-mail: laboratorioeditorial@fclar.unesp.brSite: http://www.fclar.unesp.br/laboratorioeditorial LQWHUGLVFLSOLQDULGDGH H D HVSHFLILFLGDGH OLQJXtVWLFD WHRULDV H SUiWLFDV 2UJDQL]DGR SRU /HWtFLD 0DUFRQGHV 5H]HQGH 2GDLU /XL] 1DGLQ ,Q 0DULQD &pOLD 0HQGRQoD &ODXGLD DYDJOLD QQD )ORUD %UXQHOOL 6mR 3DXOR 63 &XOWXUD FDGrPLFD S FP 6pULH 7ULOKDV /LQJXtVWLFDV ,6%1 O /LQJXtVWLFD 6HPLyWLFD H OLWHUDWXUD /tQJXDV , 5H]HQGH /HWtFLD 0DUFRQGHV ,, 1DGLQ 2GDLU /XL] ,,, 0HQGRQoD 0DULQD &pOLD ,9 DYDJOLD &ODXGLD 9 %UXQHOOL QQD )ORUD 9, 6pULH &''

SUMÁRIOApresentaçãoOs organizadores 7Variabilidade das línguas e invariância: escolhas efetuadas pelas teoriasJosé Borges Neto 13An enunciative definition of coordination: a methodological accountLucie Gournay 27Context, cognition and grammar: the active-passive alternation infunctional discourse grammarEvelien Keizer 49Entre o variável e o categórico: a concordância verbal e a colocaçãopronominal em variedades do portuguêsSilvia Rodrigues Vieira 75Orações comparativas prototípicas e não-prototípicasVioleta Virginia Rodrigues 99O trabalho interpretativo das grandes mídiasJauranice Rodrigues Cavalcanti 117Análise de textos verbo-visuais: polifonia, intertextualidade e polêmicana divulgação da parada LGBT de Maringá/2012Edson Carlos Romualdo 135Desenvolvimento humano, sustentabilidade e envelhecimento: umaabordagem interdisciplinarMaria Cristina Hennes Sampaio 1575

Estudos (sócio)linguísticos, (sócio)terminológicos, do léxico e datradução especializada – particularismos lexicais do francês da SuíçaMaria Emília Pereira Chanut 169Hipertexto, metáfora e metonímia: o sujeito e a produção do texto emmeio digitalÉmerson de Pietri 183Processos de leitura no ensino de línguaMarilia Blundi Onofre 199Les modaux de l’anglais: de la recherche a l’enseignementLionel Dufaye 215Sobre os autores e organizadores 2376

APRESENTAÇÃOOs textos que constituem este livro foram apresentados em (ou“retomam”) conferências e palestras realizadas durante o III e IVSeminários de Linguística da UNESP (SELIN), organizados peloPrograma de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesada FCL da UNESP de Araraquara e pelo Programa de PósGraduação em Estudos Linguísticos do IBILCE da UNESP de SãoJosé do Rio Preto, nos anos de 2011 e 2012. Nossa intenção, aoorganizarmos este livro, foi a de reunir textos que respondessem dediversos modos ao tema “A interdisciplinaridade e a especificidadelinguística: teorias e práticas”. Assim, nesta coletânea, encontram-se pontos de convergência e diferenças entre distintas áreas e disciplinas linguísticas, bem como as suas especificidades.É um fato bastante conhecido de todos os linguistas o deque a Linguística se afirmou como ciência no início do séculoXX, definindo objeto de estudo e metodologia de pesquisa. Essaafirmação, que exigiu delimitação de foco de interesse, ao mesmotempo necessitou, de modo coerente, negar a interdisciplinaridade.Ou, em outras palavras, houve necessidade de se fazer uma partilhaentre aquilo que é especificamente linguístico, derivado do ponto devista escolhido, e os outros focos de interesse que as línguas naturaissempre suscitaram em razão da complexidade dos domínios comos quais estão também articuladas: o psíquico/mental/biológico, deum lado e o social/cultural/histórico, de outro. Tanto um lado dessesdomínios conexos quanto o outro clamam pela valorização da interação entre os sujeitos que usam as línguas, das suas relações com omeio sócio-histórico e, sobretudo, da dinâmica espaço-temporal queexige plasticidade e movimento para as teorias e modelos explicativos.7

Os organizadoresTomar/Assumir a interdisciplinaridade como foco de interesse é trazer a complexidade do fato linguístico e dos sujeitos que interagempor meio da expressão linguística. Essa complexidade está na gênesedas línguas e as sustenta em seu desenrolar histórico.Gostaríamos que o conceito de interdisciplinaridade não fossecompreendido como interfaces ou acoplamentos de conhecimentos,como muitas vezes é tomado, o que o leva a ser confundido com osconceitos de multidisciplinar, pluridisciplinar etc.Entendemos os termos “interdisciplinar” e “interdisciplinaridade” como correspondendo a um certo enfoque em relação aoconhecimento e à sua organização. Em outras palavras, o enfoque interdisciplinar, tomando por base um conhecimento específico (tal como o estudo das línguas), que poderia ser o estudo da matemática, por exemplo, precisa dar conta de questõesbastante gerais que dizem respeito à natureza do homem e, portanto, ao conhecimento em geral e à sua organização. Um exemplo muito simples: hipóteses sobre o que são o pensamento ouos processos de abstração ou, ainda, a cognição (temas estes queinteressam a vários domínios do conhecimento) deveriam ser pesquisados, estudados na organização específica das línguas naturais. A Linguística precisaria partir de hipóteses interdisciplinarese, portanto, de problemas-chave que preocupam outras ciênciasconexas e responder, com a sua matéria específica, que são as línguas naturais, a essas hipóteses interdisciplinares. A nosso ver, aLinguística, em sua história recente, quer dizer, no último século,polarizou o seu olhar: ora se restringindo a um campo específicoe bem delimitado, como “a língua”, no sentido saussureano, umconceito linguístico, estável e sistêmico, ou como “a competência”, no sentido chomskyano, um conceito biológico, mas também invariável ou estável; ora abrindo o seu campo de interesse,privilegiando uma multidisciplinaridade em detrimento da materialidade linguística/discursiva.No momento atual, o desafio parece ser procurar novamente pontos de convergência em direção a uma nova especificidade, ou seja,trabalhar ao mesmo tempo de modo interdisciplinar e linguístico/discursivo.8

ApresentaçãoO que está sustentando essa discussão sobre a interdisciplinaridade e a especificidade é algo muito próximo da defesa de uma articulação entre a linguagem, atividade simbólica dos seres humanos, eas línguas naturais com o seu material específico, representacional ehistórico. Quando enfatizamos a necessidade para a Linguística dessa articulação primordial (línguas, linguagem e discurso), estamos, emoutros termos, salvaguardando interdisciplinaridade linguageira eespecificidade linguística.Voltando às origens da Linguística, percebemos que a negação dainterdisciplinaridade constituiu exatamente a sua afirmação enquanto ciência; gerou, consequentemente, o afastamento de reflexões quepudessem teorizar sobre a linguagem e estabeleceu as célebres dicotomias linguísticas, pilares teóricos válidos até hoje, tanto para a linguística teórica quanto para a linguística aplicada. A reflexão dicotômica éconsequência direta da falta de reflexão interdisciplinar.Saussure, quando delimitou a linguística de outras ciências,dando-lhe uma identidade e um objeto de estudo claro e explícito,tinha diante de si o desafio da especificidade versus “aglomerado confuso de coisas heteróclitas e sem liame entre si”, ou especificidade versus “abertura de portas a várias ciências – psicologia, antropologia. –que separamos nitidamente da linguística, mas que, em razão deum método incorreto, poderiam reivindicar a linguagem como umdos seus objetos”.1 Saussure, ao privilegiar um dos lados da dicotomia,elegendo o fisiológico (audição e fonação), o social (convencional), osistema estático (sincronia), em detrimento do psicológico, do individual, da evolução (movimento), o que culminou na oposição língua e fala e na valorização da língua em prejuízo da fala, ele fez umaopção mais ampla, que gerou o tipo de reflexão dicotômica, de quetanto a linguística teórica quanto a aplicada são ainda prisioneiras.Embora essas dicotomias já venham sendo negadas e problematizadas há algum tempo, as suas articulações ainda deixam a desejar. Umaarticulação real entre essas dicotomias levaria à construção de teoriase modelos linguísticos ao mesmo tempo mais interdisciplinares emenos idealizados e, portanto, mais próximos do que seria a prá1Saussurre (1975, p.24 e p.25). (T.N.)9

Os organizadorestica linguística de produção de textos (língua oral e língua escrita),mais próximos do diálogo, dos fatores biológicos e culturais (sociológicos e psicológicos) que interferem nessa prática de línguas. Em consequência, seriam teorias mais aptas a explicar os processos de aquisiçãode linguagem (língua materna), o ensino e aprendizado de línguas(línguas estrangeiras), a perda da linguagem (as disfunções em geral)e também o processo de tradução. E por que essa linguística de abordagem mais plástica e dinâmica, apta a explicar os fenômenos práticosde línguas e a variação espacial e temporal dos fenômenos linguísticos, não poderia ser, ela própria, uma linguística teórica? A abordageminterdisciplinar traz, de algum modo, em seu bojo uma crítica àsseparações institucionais entre ensino e pesquisa, teoria e prática outeoria e aplicação, e aos preconceitos gerados por essas divisões. Elatambém força os pesquisadores a pensarem as posições políticas quesustentam a organização da linguística do ponto de vista institucional.Hoje, a linguística contemporânea recupera a interdisciplinaridade. Pode-se notar esse movimento no florescimento de teorias emodelos, áreas e disciplinas: psicolinguística(s), sociolinguística(s),pragmática(s), funcionalismo(s), análise(s) do discurso, análise(s) daconversação, teoria(s) da enunciação etc. O que seria então, dentrodessa riqueza de propósitos e de detalhes de análise, a especificidadelinguística?Tanto os professores dos dois Programas anfitriões de PósGraduação em Linguística da UNESP envolvidos neste Seminário,o de Araraquara e o de São José do Rio Preto, quanto os nossosconvidados de outras instituições, que gentilmente aceitaram colaborar com nossos propósitos, estão inseridos nessa riqueza de árease disciplinas, assim como também estão outros programas de linguística nacionais e internacionais.Procurar pontos de convergência ou uma nova especificidadenessa riqueza que resulta da conexão entre a linguística e outrosdomínios é um dos objetivos da organização deste livro.O texto de José Borges Neto “Variabilidade das línguas einvariância: escolhas efetuadas pelas teorias” discute a articulaçãoda linguagem e das línguas e centraliza uma questão filosófico-metodológica central para os estudos linguísticos e também para10

Apresentaçãoo nosso tema pois, de um certo modo, a polarização entre variação e invariância retoma, por outro ângulo, a mesma questão dainterdisciplinaridade e especificidade linguística. A esse respeito,poderíamos argumentar que questões interdisciplinares poderiamser responsáveis pela variação; por outro lado, a especificidade linguística sustentaria a invariância. O desafio é mais complexo e oencaminhamento de solução não pode ser assim compartimentado, pois, como cientistas e estudiosos de línguas, temos no horizonte a procura da invariância, mas essa invariância não pode seralcançada subestimando os outros domínios nos quais a atividadelinguística está imersa. Seguem os textos de Lucie Gournay, “Anenunciative definition of coordination: a methodological account”;de Evelien Keizer, “Context, cognition and Grammar: the active-passive alternation in Functional Discourse Grammar”; de SílviaRodrigues Vieira, “Entre o variável e o categórico: a concordância verbal e a colocação pronominal em variedades do Português”e de Violeta Virgínia Rodrigues, “Orações comparativas prototípicas e não-prototípicas”. Esses quatro textos tratam de fenôme

Diretor: Arnaldo Cortina Vice-diretor: Cláudio César de Paiva Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa Coordenadora: Rosane de Andrade Berlinck SÉRIE TRILHAS LINGUÍSTICAS Nº 26 Comitê Editorial Cibele Krause-Lemke (UNICENTRO) Erotilde Goreti Pezatti (UNESP-IBILCE) Frantomé Pacheco (UFAM) Gladis Massini-Cagliari (UNESP-FCLAr) Marianne