Universidade Federal De Pernambuco Centro De Artes E Comunicação .

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOCENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃODEPARTAMENTO DE DESIGNMESTRADO ACADÊMICOTERMINAIS DE INTEGRAÇÃO PARA TRANSPORTE PÚBLICO HUMANIZADO:estudo ergonômico nos terminais do Grande RecifeSadi da Silva Seabra FilhoRECIFE2015

1Sadi da Silva Seabra FIlhoTERMINAIS DE INTEGRAÇÃO PARA TRANSPORTE PÚBLICO HUMANIZADO:estudo ergonômico nos terminais do Grande RecifeDissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação emDesign do Centro de Artes e Comunicação da UniversidadeFederal de Pernambuco, como requisito à obtenção de título deMestre em Design.Orientadora: Profª. Drª. Laura Bezerra MartinsCo-orientador: Prof. Dr. Béda Barkokébas JuniorRECIFE2015

2Catalogação na fonteBibliotecário Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204S438tSeabra Filho, Sadi da SilvaTerminais de integração para transporte público humanizado: estudoergonômico nos terminais do Grande Recife /. Sadi da Silva Seabra Filho –Recife: O Autor, 2015.206 f.: il., fig.Orientador: Laura Bezerra Martins. Coorientador: Béda BarkokébasJuniorDissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco.Centro de Artes e Comunicação. Design, 2015.Inclui referências e anexos.1. Ergonomia. 2. Transportes. 3. Transporte urbano. 4. Acessibilidadeao transporte local. I. Martins, Laura Bezerra (Orientador). II. BarkokébasJunior, Béda (Coorientador). III. Título.745.2CDD (22.ed.)UFPE (CAC 2015-97)

1UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGNPARECER DA COMISSÃO EXAMINADORADE DEFESA DE DISSERTAÇÃO DEMESTRADO ACADÊMICO DESadi da Silva Seabra Filho“Terminais de integração para transporte público humanizado: estudo ergonômiconos terminais do Grande Recife.”ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESIGN E ERGONOMIAA comissão examinadora, composta pelos professores abaixo, sob a presidência doprimeiro, considera o(a) candidato(a) Sadi da Silva Seabra FilhoAPROVADO.Recife, 29 de janeiro de 2015.Profª. Laura Bezerra Martins (UFPE)Prof. Béda Barkokébas Júnior (UPE)Prof. Walter Franklin Marques Correia (UFPE)Profª. Bianca Maria Vasconcelos Valério (UPE)

2“Que ninguém se engane: só se conseguea simplicidade através de muito trabalho”.Clarice Lispector

3AGRADECIMENTOAgradeço a Deus, pela vida e por todas as oportunidades que me fizeramchegar até essa etapa da minha vida e por todas as outras oportunidades que aindavirão.À Universidade Federal de Pernambuco, ao programa de pós-graduação emdesign e ao departamento de design por todo suporte fornecido, a todos meusprofessores e em especial à minha orientadora Laura Martins pela paciência,estímulo de sempre continuar, compreensão, amizade e muitos ensinamentos.Ao co-orientador professor Dr. Bêda Barkokébas por toda a colaboração eopiniões norteadoras.Ao professor Dr. Walter Franklin, que acompanha minha trajetóriaacadêmica desde a graduação em Caruaru, por todo incentivo, atenção eentusiasmo contagiante.À professora Dr.ª Bianca Maria pela disponibilidade de participar da banca epela colaboração.Às estudantes universitárias, Ana Beatriz, Jossandra, Júlia, Maria Luiza,Marina, Alexandra, Manu e Bárbara que me ajudaram de forma determinada naárdua tarefa de entrevistar os usuários dos terminais.À minha família, pois sempre estiveram comigo, torcendo por mim e pelomeu sucesso. Em especial a queridíssima tia Dora (in memoriam), Voinha (inmemoriam), Irmã Alice (in memoriam), minhas madrinhas tia Lourdinha e tia Suelly ea minha prima Anne que me deu uma força especial.Aos Meus amigos da ETEPAM que me incentivaram e ajudaram a seguir acarreira acadêmica: Sandra, Antônio Carlos, Flavio César (in memoriam), FlávioFerreira, Arlindo, Marina, Orlando, Tania, Márcio, Taciana, Francinildo, Hugo, Jaísa,Gilson e Bartira.Ao meu grande amigo professor Bruno Barros por toda a motivação deseguir uma carreira acadêmica, por todo estímulo nos momentos de desespero, pelaamizade sincera e orientação de vida.À minha vizinha e grande arquiteta Graça Araújo por ter me mostrado ocaminho da minha profissão e por toda uma amizade de mais de muitos anos.

4Aos exemplos da minha carreira acadêmica, tio Salim, tio Júnior, DeborahSeabra e minha irmã que eu tanto amo e tanto me ajuda, Ana Gabriela.À minha grande companheira/namorada/esposa Fabia Moura por ter sidopaciente, acreditado em meu potencial, sem sua ajuda incondicional não teriaconcluído essa dissertação, por todo amor, companheirismo e alegrias que mefizeram acreditar que conseguiria.Agradeço também ao meu Pai Sadi Seabra por toda a educação, as minhasirmãs Amanda Seabra, Ana Gabriela e Alexandra que eu tanto amo, e ainda apessoa mais especial e exemplo da minha vida, a pessoa que mais admiro por todasua força, inteligência e beleza, minha Mãe Maria Solange Lins Seabra.Agradecemos ao Grande Recife e seus funcionários que nos recebeuatenciosamente e disponibilizou o espaço para estudo dos terminais integrados,demostrando-se como meio de experimentação e contribuição a formação equalificação de profissionais. Em especial a Cristina Arouxa que fez toda a pontepara possibilitar esse estudo.

5RESUMOO Sistema Estrutural Integrado (SEI) é uma rede responsável pelo transporte urbanopúblico da cidade do Recife-PE e região metropolitana. Composto por linhas deônibus e metrô interligadas por terminais de integração, que foram criados com aintenção de facilitar a vida dos passageiros e otimizar o transporte. A pesquisaobjetivou traçar diretrizes de melhoria relacionados à ergonomia do ambienteconstruído dos terminais de integração, visando melhores condições de conforto,usabilidade, acessibilidade e segurança aos usuários. O estudo foi realizado em trêsterminais escolhidos através dos seguintes fatores: localização na malha viária,maior número de usuários e ano de inauguração. Para isso, foi realizado um estudode campo, utilizando as metodologias: Avaliação Pós Ocupação (APO), MetodologiaErgonômica para o Ambiente Construído (MEAC) e a Intervenção Ergonomizadorado Sistema Humano Tarefa Máquina (SHTM). A avaliação dos ambientesconstruídos aliadas a percepção dos usuários foram capazes de identificar e mapearos problemas ergonômicos e de acessibilidade, levantando pontos críticos que serepetem nos terminais e que são causadores de desagradáveis situações para apopulação. A partir do diagnóstico foram propostas diretrizes que podem garantir omelhor desempenho das atividades destinadas ao espaço do terminal, melhorandoas relações entre passageiros, funcionários e terminal.Palavras-chave: Ergonomia do Ambiente Construído. Terminais Integrados.Acessibilidade. Transporte Público.

6ABSTRACTThe Integrated Structural System (SEI) is the network of the urban public transport inthe city of Recife and the metropolitan area. It consists on buses and subway linesinterconnected by integration terminals specially created to make life easier forpassengers. This research had aimed to establish guidelines to improve theergonomics of the environment built (the Integrated Terminals) to improve theconditions of comfort, usability, accessibility and safety of their users. The study wasconducted in three terminals chosen by the following factors: road network location,the largest number of daily users and opening year. For this, a field study wasconducted, using the methodologies: APO - Evaluation Post Occupation, MEAC Ergonomic Methodology for the Environment Built and the Ergonomics interventionHuman Machine System Task (SHTM). The analysis of the these environmentscombined with the perception of the users were able to identify and show in detail theergonomic and accessibilit y problems, raising critical points that are repeated in theterminals and are causing unpleasant situations for the people. By diagnostic theergonomic issues, it was possible to come up with solutions that guarantee the bestperformance of these terminals, improving interpersonal relationships between usersand staff, reducing the risks of accidents and ergonomic defect, and in addition,improve the condition for those who use and work the Integrated Structural System.Keywords: Built Environment Ergonomics. Integrated Terminals. Accessibility. PublicTransportation.

7SUMÁRIO1 INTRODUÇÃO1.1 Justificativa1.2 Objetivos1.2.1 Objetivo geral1.2.2 Objetivos específicos1.3 Objeto de estudo1.4 Metodologia10PARTE I - CONTEXTUALIZAÇÃO172 TRANSPORTE PÚBLICO NO BRASIL2.1 Sistemas de transporte público das principais capitais porregião do país2.1.1 Região Sudeste – São Paulo2.1.2 Região Centro-Oeste – Brasília2.1.3 Região Norte – Manaus2.1.4 Região Sul – Curitiba2.2 Mobilidade urbana atual no Brasil173 SISTEMAS DE TERMINAIS INTEGRADOS DE TRANSPORTEPÚBLICO URBANO NO BRASIL3.1 Bilhetagem eletrônica3.2 Exemplos de terminais integrados3.3 Terminais Inteligentes – uma possibilidade viável334 PARÂMETROS ERGONÔMICOS NOS PROJETOS DE TERMINAIS4.1 Ergonomia do ambiente construído e percepção ambiental4.2 O projeto do ambiente construído4.2.1 Iluminação4.2.2 Temperatura4.2.3 Ruído4.2.4 Layout4.2.5 Confiabilidade no sistema de transporte público4.2.6 Conforto relacionado à densidade de ocupação veicular4.2.7 Desafios da gestão4.3 Acessibilidade: definição e normas4.3.1 Design Universal4.3.2 Deficiência e restrições espaciais4.3.3 Inclusão e acessibilidade 4545464647485051

84.3.4 Componentes de acessibilidade espacial5 LEGISLAÇÕES E NORMATIVAS5.1 Leis Federais5.2 Leis do Estado de Pernambuco5.3 Leis da cidade do Recife5.4 Normas brasileiras5253535455556 MÉTODOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO DO AMBIENTECONSTRUÍDO6.1 Observações sistemáticas6.2 Sistema Humano Tarefa Máquina – SHTM6.3 Metodologia Ergonômica para o Ambiente Construído – MEAC6.4 Avaliação Pós Ocupação – APO6.5 O método do passeio acompanhado6.6 Avaliação da acessibilidade de edificações públicas6.7 Ergonomics Workplace Analysis – EWA59PARTE II – ESTUDO DE CAMPO707 APRESENTAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO7.1 Terminal Integrado Tancredo Neves – TITN7.2 Terminal Integrado Pelópidas Silveira – TIPS7.3 Terminal Integrado da Macaxeira – TIM708 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS8.1 Entendimento do sistema de transporte8.2 Reconhecimento do ambiente a ser avaliado8.3 Reconhecimento do ambiente em uso8.4 Percepção do usuário na questão ambiental8.4.1 Questionário de percepção do usuário759 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DE CAMPO9.1 Resultados do entendimento do sistema estrutural integrado9.2 Reconhecimento do ambiente a ser avaliado e reconhecimentodo ambiente em uso9.2.1 Características físicas dos terminais integrados9.2.2 Setorização9.2.3 Funcionários do terminal9.2.4 Opinião dos funcionários9.2.5 10112117

99.2.6 Problematização ergonômica9.2.7 Condições ambientais9.2.8 Avaliação da acessibilidade dos terminais9.3 Pesquisa de percepção do usuário9.3.1 Opinião dos usuários12113413615017710 ANÁLISE DOS RESULTADOS10.1 Diretrizes de projeto e adequação10.2 Diretrizes de operação10.3 Diretrizes de acessibilidade18011 CONSIDERAÇÕES FINAIS190REFERÊNCIASANEXO (Pesquisa de opinião e expectativa dos usuários nosterminais de integração do STPP/RMR)180185188

101 INTRODUÇÃOOs terminais Integrados do Grande Recife fazem partem do SistemaEstrutural Integral (SEI), responsável pelo transporte urbano da cidade do Recife eregião metropolitana, foram criados com a intenção de facilitar a vida do usuário dotransporte público do Recife (ônibus e metrô) deixando os trajetos mais longos umpouco, entretanto mais baratos e integrando diferentes pontos do Grande Recife.Esses terminais são equipamentos/ambientes construídos do transportepúblico, responsáveis por realizar o transbordo dos passageiros diariamente de umônibus para outro. Esses espaços comportam diversas outras atividades realizadastanto pelos funcionários como pelos passageiros. Gerando uma interação entre osfuncionários, passageiros e ambiente do terminal.A pesquisa baseia-se nos constrangimentos que são proporcionados peloambiente construído do Terminal Integrado de transporte rodoviário urbano,chamados pelos usuários apenas de terminais ou integração. Mesmo sendo osTerminais Integrados do Grande Recife - TIGR construídos com aprovação elicenciamento, sob a luz das legislações vigentes, o mesmo gera diversosconstrangimentos nas relações entre passageiros, funcionários e terminais.Diante dessa afirmação cabem questionamentos tais como: Em quecondições ambientais os constrangimentos aos usuários ocorrem nos TerminaisIntegrados? E como os usuários podem ser afetados pelo ambiente construído dosTerminais Integrados? Os Terminais Integrados do Grande Recife foram construídoscom base em um projeto que não leva em consideração as questões ergonômicas?Essa possível ausência de uma preocupação com os fatores humanos prejudica arelação entre os usuários, funcionários e o terminal?A amostra foi determinada de acordo com a quantidade de usuários,localização do terminal e data de edificação do espaço. O tema dessa investigaçãose enquadra na área de Ergonomia com um estudo aprofundado em ambienteconstruído e a relação de conforto e desempenho dos usuários e funcionários doTerminal Integrado do Grande Recife.Com esse estudo, nos Terminais Integração – TI, verificou-se se eles sãoadequados às condições e limitações humanas e se foram concebidos com basesque consideram a ergonomia e o design universal. Além de determinar parâmetros

11para reformas e intervenções de melhoria ergonômica dos terminais e a estes tiposde edificações e confirmando a fundamental importância da realização dessesestudos para que a ampliação do sistema de integrações se torne cada vez maisvoltadas às necessidades físicas, cognitivas dos usuários.1.1 JustificativaA mobilidade das pessoas é a garantia da realização de funções urbanasnas cidades. Pensando assim, quanto menor o tempo e maior a qualidade eeficiência agregado aos equipamentos e meios de transporte, melhor será a vida dapopulação, inclusive economicamente.Muitos são os problemas encontrados no transporte público no Brasil:acidentes de trânsito, ônibus lotados, filas nos terminais, discussões entrefuncionários do sistema de transporte e passageiros, tarifas caras, enfim, uma gamade situações em que os mais prejudicados são os que dependem do sistema públicopara sua locomoção.O desafio do transporte Público Coletivo é proporcionar um nível dequalidade do serviço que satisfaça as expectativas de seus usuários, com preçoacessível, pois 95% da demanda atual de transporte público é atendida por ônibus epara o Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade - MDTos usuários devem deixar de arcar com a totalidade dos custos (MDT, 2009).Devendo, portanto, o governo se mobilizar para subsidiar os custos de transportepúblico de qualidade.De acordo com o Grande Recife Consórcio de Transporte (2013), osterminais integrados são fechados e proporcionam aos usuários um ambiente limpo,seguro e confortável possuindo equipamentos como lanchonetes, lojas, funcionáriostreinados para funções específicas (como segurança e vigilância) que facilitam autilização do Sistema por parte dos usuários. Entretanto, o que se vê nos jornais degrande circulação do Estado de Pernambuco são diversas reclamações quequestionam a qualidade do transporte coletivo e mostram o sofrimento da parcela dapopulação que enfrenta diariamente os TIGR.A concepção do ambiente construído sofre com o descaso que o movimentoda construção civil deu ao espaço, não sendo ele feito para o uso humano, e sim

12muito mais fiel com as questões econômicas e a demanda do projeto macro dosistema de transporte. A influência do meio e a demanda do programa operacionaldefinem muito mais a forma do ambiente construído do que as pessoas quedesenvolvem as atividades e utilizam esse espaço, dessa forma fica evidente anecessidade e importância de se avaliar a qualidade dos ambientes construídos dosequipamentos do transporte público, que estão se tornando cada vez maisineficientes para o uso dos passageiros.De acordo com Iida (2005), o diagnóstico ergonômico, através da avaliaçãodo ambiente, identifica os motivos pertinentes aos problemas encontrados nademanda, correlacionados ao trabalho e à empresa. Diante disso, realizar umaintervenção ergonômica em um Terminal Integrado de Passageiros, além deidentificar diversos problemas de caráter ergonômico, problemas de acessibilidade esegurança pode ainda aumentar e melhorar o desempenho das atividades, assimcomo, de forma direta, tornar mais confiável o serviço prestado pelas empresasconcessionárias dos ônibus que utilizam esses terminais.Circulam,diariamente,nos18 terminais deintegraçãodaRegiãoMetropolitana, um milhão de pessoas, nas quais estão incluídas crianças, idosos,gestantes e pessoas com deficiência física e/ou sensoriais.São várias as reclamações dos que utilizam o serviço. Elas vão desde asfilas enormes, confusão para entrar nos ônibus lotados, muito tempo de espera nospontos de ônibus, falta de acessibilidade física, desinformação quanto ao percursodo coletivo, entre outros constrangimentos. É necessário que sejam criados estudosque estruturem e normalizem a construção desses espaços para evitar situaçõesindesejadas aos usuários.Em 2005 foi criada a NBR 15320 - Acessibilidade à pessoa com deficiênciano transporte rodoviário, a Norma estabelece os padrões e critérios que visamproporcionar à pessoa com deficiência a acessibilidade ao transporte rodoviário. ANorma aplica-se apenas aos veículos novos e se destina a promover aacessibilidade para pessoas com deficiência. Em relação aos componentesestruturadores do transporte como os terminais e pontos de paradas a norma dizque devem também ser acessíveis, seguindo as determinações da legislação daNBR 9050-2004 que não apresenta uma diretriz específica para terminais de ônibus.

13De acordo com a Gerência de Educação e Relacionamento (GERE) e apresidente da Comissão de Acessibilidade do Grande Recife, Fernanda Gouvêa, aintenção do Grande Recife é proporcionar cada vez mais qualidade no que dizrespeito à acessibilidade, tanto nos terminais integrados, instalando placas cominformações em Braille, quanto na quantidade de coletivos adaptados comelevadores. Para Lima (2009), é necessário entender as dificuldades das pessoascom deficiência e aplicar, no cotidiano, soluções capazes de facilitar o deslocamentodo transporte; além de incluir essas pessoas em todo o Sistema de TransportePúblico.Como aliado tem-se a ergonomia que estuda os elementos que fazem orelacionamento entre o homem e o ambiente, além de outros aspectos relacionadosao trabalho. Manter o processo de projetação com referenciais na relação usuárioambiente, a partir de um estudo ergonômico, não só valoriza como fundamenta asdecisões tomadas durante o planejamento e desenvolvimento dos projetos deambientes construídos, diminuindo consideravelmente as deficiências existentes dosambientes em que o homem desenvolve suas atividades.Um estudo ergonômico, por se tratar de uma análise detalhada da tarefaserá capaz de proporcionar mais qualidade as atividades desenvolvidas no terminalpelos usuários e funcionários, verificando ainda as questões relacionadas àacessibilidade. A pesquisa visa o entendimento das necessidades dos usuários paraproporcionar soluções direcionadas aos problemas expostos pelo público quedepende do uso do terminal Integrado.A adequação do ambiente construído dos TIGR que abrigam o serviço detransporte público coletivo à utilização dos seus usuários pode ser verificadamediante a realização de avaliações ergonômicas desses espaços. Estas avaliaçõespodem contribuir para a obtenção de parâmetros ou subsídios ergonômicos deprojeto que cooperem para a qualidade dos ambientes dos terminais e para autilização plena desses ambientes pela população de usuários. Proporcionando umadiminuição significativa nos constrangimentos das relações: usuário-usuáriogarantindo uma maior satisfação e menor estresse ao se utilizar o transporte público;usuário-funcionário melhorando a qualidade do atendimento e satisfação dofuncionário nas suas atribuições diárias; funcionário-terminal tornando as atividadesmais adequadas às capacidades dos trabalhadores; e por fim terminal-usuário

14gerando uma maior agilidade, conforto e segurança nas atividades desempenhadasnos terminais pelos passageiros.O olhar ergonômico identifica onde estão as principais falhas no que dizrespeito às questões como acessibilidade, orientação dos usuários, deslocamento,embarque e desembarque, espera, entre outras várias atividades que o usuáriopassageiro poderá desempenhar no ambiente do terminal. E a partir dessesconstrangimentos identificados, poderá ser realizado um projeto ergonômico deintervenção que reduza boa parte dos problemas e reclamações feitas pelospassageiros.O estudo aponta os constrangimentos gerados na relação usuáriofuncionário e terminal. Após identificação dos problemas e posterior intervençãoergonômica, os funcionários poderão ter melhores condições de trabalho, garantindoum desempenho mais satisfatório de suas atividades, uma melhor relaçãointerpessoal, um aumento na produtividade e consequentemente um ganho para osusuários passageiros, que serão melhores atendidos.Desenvolver essa pesquisa tem suma importância para a área deergonomia, contribuindo para o conhecimento da ergonomia do ambiente construídorelacionado ao transporte público, no que diz respeito aos terminais de Integração,na tentativa de proporcionar um transporte coletivo mais humano.1.2 Objetivos1.2.1 Objetivo geralPropor diretrizes de concepção/adequação de Terminais Integrados narelação dos usuários, passageiros e funcionários e do ambiente de terminais naRegião Metropolitana do Recife.1.2.2 Objetivos específicos- Compreender os fatores causadores dos conflitos existentes entre osusuários;

15- Conhecer as queixas e anseios dos passageiros e funcionários sobre oambiente construído dos terminais, garantindo uma avaliação conjunta querepresente a opinião desses indivíduos;- Contribuir para a Comunidade Científica que estuda ergonomia doambiente construído com um estudo de caso voltado para os terminais de ônibus etransporte coletivo.1.3 Objeto de estudoO objeto de estudo dessa pesquisa está concentrado nos terminais deIntegração do Grande Recife, esses terminais fazem parte do Sistema EstruturalIntegrado – SEI que é uma rede de transporte público composta de linhas de ônibuse metrô. Ele apresenta uma configuração espacial constituída por eixos radiais eperimetrais.1.4 MetodologiaA pesquisa foi elaborada nos terminais integrados do Grande Recife, paraisso foi realizado um estudo nos sistemas de transporte das principais capitais doBrasil. Nesse estudo foram verificadas as boas opções e soluções queacrescentaram positivamente na busca de soluções para a melhoria dos pontos deconstrangimento do usuário levantados na avaliação ergonômica.De acordo com Moraes e Mont’Alvão (2003), a pesquisa ergonômica temfoco no comportamento do usuário, utilizando métodos de investigação eobservação. A inquirição corresponde a uma de busca metódica da informação e dequantificação dos resultados através de: entrevistas, verbalizações, questionários eescalas de avaliação. A observação pode ser divida em observação sistemática,observação assistemática e registros de comportamento.Para Sommer (2002), é papel do pesquisador verificar as prioridades dosquestionamentos levantados e o melhor método a ser utilizado. Para o estudo docomportamento do ponto de vista do ergonomista, os métodos de inquirição sãoaplicados para levantar informações junto aos usuários sobre as atividadesrealizadas e as necessidades da tarefa. Entretanto, Moraes e Mont’Alvão (2003)

16afirmam que apenas esse procedimento não é suficiente. Ou seja, devem-se utilizartambém observações sistemáticas e o registro de comportamento.Com isso, os métodos e técnicas que foram utilizados nesta pesquisa têmcomo base três metodologias bem difundidas: APO - Avaliação Pós Ocupação,MEAC - Metodologia Ergonômica para o Ambiente Construído e a SHTM Intervenção Ergonomizadora, pois essas metodologias se utilizam de observações,registros comportamentais, escalas de avaliação e questionários, avaliação dolayout espacial através de um modelo e percepção do usuário.As etapas de pesquisa foram as seguintes: Entendimento do sistema detransporte, no qual foram estudados as normas e sistema de operação do SEI;Reconhecimento do ambiente construído, através de plantas arquitetônicas dosterminais, elementos construtivos, equipamentos/mobiliários e medições de confortoambiental; Avaliação do ambiente em uso, verificando os fluxos, postos de trabalho,atividades realizadas, análise da acessibilidade através do método de avaliação deDischinger (2012), horários de funcionamento, turnos de trabalho, setorização;Percepção do usuário.Finalmente, a avaliação se encerra com o diagnóstico da situação estudada.Nessa etapa, todos os elementos coletados estão presentes e é realizado oconfronto entre o resultado das observações realizadas, das interações com osdiversos atores investigados e da percepção dos usuários. Com os resultados, forampropostas diretrizes de projeto/adequação, de operações e de acessibilidade.

17PARTE I - CONTEXTUALIZAÇÃO2 TRANSPORTE PÚBLICO NO BRASILDiversos protestos ocorreram em 2013 no Brasil. A motivação inicial dessasmobilizações começou com o aumento de 20 centavos da tarifa de ônibus dotransporte público da cidade de São Paulo. Os protestos foram ganhando grandesproporções e se alastrando por diversas cidades de toda a nação, causando aparalisação de setores do país como comércio, transportes, escolas, portos entreoutros. A insatisfação pelo preço abusivo cobrado na maioria das cidades foi a gotad'água para que o povo olhasse as deficiências da mobilidade existente em suascidades, exigindo assim mais qualidade no transporte público.De acordo com Furtado (2013) a questão do aumento da tarifa foi apenasum estopim para um problema que a muito é reprimido no Brasil: a melhoria eexpansão do transporte público nas grandes cidades brasileiras. Para o mesmoautor precisa-se de uma prioridade do governo em investimentos em mobilidade quegarantam o direito de ir e vir de todos.A imagem da figura 1 apresenta a manifestação que ocorreu na capitalpernambucana, a questão do transporte público também foi um dos fatores queinfluenciaram essa mobilização.Figura 1 - Foto das manifestações da cidade do Recife.

18No período das manifestações a Associação Nacional de Empresas deTransportes Urbanos (NTU) lançou um manifesto público, ao governo federal, comoito propostas para a melhora do sistema de transporte público no país, comomostra a figura 2. No item 4 das propostas, é afirmada a ideia do uso da integraçãono transporte e racionalização do sistema para um alto desempenho.Figura 2 – Anuário da NTU com propostas para a melhoria do transporte público. Fonte:anuário NTU 2013-2014.Um ano após os manifestos pouco foi realizado para melhorara eatendimento das demandas da população. Os investimentos de 50 bilhões paraprojetos na área de mobilidade urbana e a criação de um comitê técnico paraelaborar propostas do Pacto Nacional de Mobilidade Urbana, anunciados pelogoverno federal, até junho de 2014 não tinham sido implantados (NTU, 2014).De acordo com o presidente da NTU, Otávio Vieira da Cunha Filho, essadiscussão sobre o transporte público está com pelo menos 20 anos de atraso, hámuito que empresários das operadoras traçam esse prognóstico para mudanças.

19Para os empresários o transporte público precisa de uma revisão imediata, tendo emvista que há muito deixou de contemplar as necessidades do cidadão. Para ele opoder público deve atuar com o poder privado para o melhor para a população(NTU, 2014).O governo ao realizar investimentos para incentivar a compra de carros, coma redução de impostos, como o IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados,prejudicou o transporte público. Leitão (2013) afirma que a compra de carros e oaumento do transporte individual, incentivados pelo governo, não foi planejada deacordo com a capacidade das vias das cidades e do transporte público, deixandosufocado o direito de ir e vir de toda a população, sendo ela usuária do transportecoletivo ou individual.De acordo com o relatório da pesquisa do Sistema de Informações daMobilidade Urbana da ANTP, as pessoas percorrem 432 bilhões de quilômetros porano, sendo que o transporte coletivo é responsável por percorrer 57,2% dasdistâncias nas viagens habituais, ou seja, a maior parte das distâncias é realizadapelo transporte coletivo. Já os carros são usados em apenas 31% das distâncias.Em 2012, do total das viagens realizadas em transporte coletivo (18,2 bilhões) nascidades brasileiras com mais de 60 mil habitantes, 70% delas aconteceram emônibus municipais, 17% em ônibus metropolitanos e 13% em trilhos (ANTP, 2012).Em contrapartida, para Cocco & Silveira (2011), colocar a aquisição deveículos motorizados individuais como sendo o principal problema do transportepúblico não é correto, visto que existem diversos exemplos mundiais onde a boaqualidade e o baixo custo dos transportes públicos induzem a população a deixarseus automóveis em casa.O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA (2013), em parceria coma Universidade de Oxford, afirma que a mobilidade urbana prejudica, principalmente,os habitantes das cidades mais populosas, onde a renda per capita é maior e apopulação possui mais carros. Dados mostram que nos últimos 20, o tempo gastono trajeto do brasileiro para o trabalho aumentou 4,5%. Esse índice possui umcrescimento mais acentuado em cidades como Brasília e em Belo Horizonte, 6,2% e6,5%, respectivamente.Para o técnico especialista do IPEA Rafael Henrique Moraes Pereira otempo de deslocamento para o trabalho nas áreas metropolitanas do Brasil

20aumentou 4% para os mais pobres, que utilizam o transporte público, e 15% para osmais ricos. A pesquisa mostra que, os brasileiros de maior renda aumentaram otempo de deslocamento para trabalho por conta do trânsito. O

The Integrated Structural System (SEI) is the network of the urban public transport in the city of Recife and the metropolitan area. It consists on buses and subway lines interconnected by integration terminals specially created to make life easier for passengers. This research had aimed to establish guidelines to improve the